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ESCRITORES/ VIDA E OBRA

Todos os artigos publicados neste site  são de minha autoria 

   JORGE AMADO-o grande escritor que mostrou a Bahia e o Brasil para o mundo 

O escritor Jorge Amado nasceu em 10 de agosto de 1912, na Bahia, numa fazenda de cacau chamada Auricídia, em Ferradas, distrito de Itabuna. Filho de João Amado de Faria, coronel e fazendeiro e de Eulália Leal.  Ainda criança se mudou com a família para Ilhéus em 1917 mudou-se novamente para Itajuípe.

Jorge Amado foi alfabetizado pela própria mãe e ainda pequeno voltou para Ilhéus para frequentar a escola. Mais tarde com apenas 10 anos, criou no colégio um jornal chamado “A Luneta”. Ele e a família distribuíam esse jornal para os vizinhos e parentes. Mudou-se depois para Salvador para estudar em um internato.

No término de uma de suas férias o pai o levou de volta ao colégio, mas quando foi embora, Jorge ao invés de entrar na escola, fugiu. Foi para Sergipe para a casa do avô, levando dois meses para chegar. De lá foi levado de volta para a casa dos pais. Por causa da fuga foi matriculado em outro colégio interno. Neste novo colégio primeiro dirigiu o jornal do grêmio e depois criou seu próprio jornal “A Folha” que fazia oposição ao periódico da escola.

Quando completou 15 anos foi morar no Pelourinho e começou a trabalhar como repórter policial no “Diário da Bahia”. Nessa época foi publicada uma poesia sua na revista “A Luva”.

Adepto e praticante do Candomblé recebeu o título de “ogã”, que significa “o protetor”, esse foi o primeiro de vários títulos que ele recebeu dentro dessa religião.

Em sua juventude, desde muito cedo já demonstrava a sua vocação para escritor. Foi também uma pessoa inquieta e inconformada com a realidade a sua volta, demonstrando seu engajamento político desde a formação de seus primeiros jornaizinhos de escola onde ele era sempre a “oposição”. Também fez parte, de um grupo de jovens escritores chamado “Academia dos Rebeldes”, todos os membros inclusive ele publicavam  trabalhos num “estilo moderno sem serem modernistas” segundo as próprias palavras de Jorge Amado.

Em 1930 o escritor se mudou para o Rio de Janeiro onde conheceu e ficou amigo do poeta Vinicius de Moraes. No ano seguinte ele ingressou no curso de direito da Universidade do Rio de Janeiro, mas ao se formar nunca exerceu a profissão. Foi nessa época que ele teve seu primeiro livro publicado “O país do carnaval”, um sucesso de crítica e de público.

Em 1932 ao ler “Caetés” de Graciliano Ramos, Jorge Amado ficou fascinado pelo romance e viajou até Maceió só para conhecer o escritor, se tornaram amigos e essa amizade durou até a morte de Graciliano. Foi amigo também de outros escritores famosos: José Lins do Rego, Rubem Braga, Jorge de Lima e de Rachel de Queiroz, através dela se aproximou dos comunistas. Entre seus amigos também estavam outros nomes muito importantes dentro da cultura nacional, tais como: Gilberto Freyre, Aurélio Buarque de Holanda e Dorival Caymmi. Filiado ao partido comunista e militante político, o escritor que trabalhava  também como jornalista, durante o Estado Novo, governo de Getúlio Vargas, chegou a ser preso várias vezes, por seu posicionamento político. A primeira prisão aconteceu no Rio de Janeiro quando foi acusado de ter feito parte da “Intentona Comunista”, um movimento rebelde ocorrido um ano antes em Natal, liderado por Luís Carlos Prestes, com o objetivo de derrubar o governo de Getúlio Vargas. Por causa desse movimento o partido comunista foi fechado, levado à ilegalidade e seus membros passaram a ser perseguidos. Em 1941 o escritor escreveu “A vida de Luís Carlos Prestes”, que foi vendido clandestinamente no Brasil.

Quando saiu da prisão Jorge Amado viajou pela América Latina e depois foi para os Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, era publicado seu livro “Capitães da Areia”.  Quando retornou foi preso novamente pelo governo Vargas e seus livros foram proibidos e queimados em Salvador, acusados de subversivos. Ao ser solto foi encaminhado ao Rio de Janeiro. Depois mudou-se para São Paulo onde ficou na residência do amigo Rubem Braga. Viajou então para Sergipe e lá imprimiu alguns exemplares do livro “A estrada do mar” que ele mesmo distribuiu para os amigos. Apesar das dificuldades para publicar seus livros no Brasil, nesse período seu livro ”Suor” foi publicado em inglês e lançado em Nova York e “Jubiabá” foi publicado na França em frânces.

Durante o governo de Vargas o escritor foi exilado e morou em várias partes do mundo. Após o fim da Segunda Guerra voltou para o Brasil.

Em 1945 Jorge Amado ficou conhecendo a escritora Zélia Gattai que se tornou sua segunda mulher e com quem ele viveu até o fim de sua vida.

Ao longo da carreira o escritor Jorge Amado teve seus livros traduzidos em 48 idiomas, muitas de suas obras foram adaptadas para tv, teatro, cinema e até para histórias em quadrinhos. Isso não aconteceu só no Brasil mas em vários países do mundo como França, Portugal, Alemanha e Estados Unidos entre outros. Dentre as suas obras mais famosas estão “Gabriela, cravo e canela” e ”Dona Flor e seus dois maridos” ambas adaptadas para a tv e para o cinema. Além destas, “Tenda dos milagres” e “Tieta do agreste”, entre outras, também tiveram adaptações. Em 1961 o escritor Jorge Amado passou a ocupar a cadeira número 23 da Academia Brasileira de Letras. Ele não escreveu só romances, apesar de ser mais conhecido como romancista, escreveu também. poesias, biografias, peças de teatro e histórias infantis.

Em 06 de agosto de 2001 Jorge Amado faleceu em Salvador, devido a problemas cardíacos e à diabetes. Respeitando a vontade do próprio escritor, seu corpo foi cremado e suas cinzas foram espalhadas, sob uma mangueira no jardim de sua casa.

A importância do escritor Jorge Amado e de sua obra para a literatura brasileira é indiscutível. Seu talento e seu trabalho são conhecidos e reconhecidos mundialmente. Uma obra de quase 40 livros publicados ao longo de sua vida, premiadíssima no Brasil e no exterior. O grande escritor retrata em seus livros a Bahia como nenhum outro fez antes, ele próprio é o retrato autêntico do povo baiano, que faz parte de seus livros, nascido numa fazenda de cacau, filho de coronel, praticante do candomblé. Suas histórias foram escritas a partir de sua própria vivência. Sua visão de mundo é sempre do  ponto de vista de sua amada Bahia, não importa em que lugar do mundo ele estivesse, e ele esteve e viveu em várias partes do mundo, é sempre esse olhar do brasileiro e baiano que se vê em suas obras. Em seus livros está o retrato de uma época, dos coronéis, das grandes fazendas de cacau e de seu julgo político, como senhores poderosos que dominavam a população, que eram obrigadas a obedecer às regras ditadas pelos donos de terra. ”O coronelismo” tinha suas próprias leis e fazia sua própria “justiça”. Em todos os livros de Jorge Amado essa relação nada democrática de poder está retratada. Resquícios dessa época e desse comportamento ainda podem ser encontrados nos locais mais distantes, no interior de vários estados do Brasil.  É como se ele tivesse pintado um quadro da Bahia onde fica até difícil separar a história contada da história real. Há em seus livros uma clara crítica social ao mostrar a relação dos poderosos com as populações que viviam e trabalhavam nas grandes propriedades e ao redor  delas. Ele também denuncia o abandono da  infância e suas consequências  em seu famoso livro: “Capitães da areia”. A história dos menores abandonados e delinquentes das areias da Bahia, uma história ainda muito atual em nossos dias, onde os menores “abandonados” pela sociedade praticam crimes tanto nas areias como no asfalto das grandes cidades. Seu engajamento politico e sua ligação com o comunismo nunca o levaram a pegar em armas, era um ativista sim, mas suas principais armas sempre foram a caneta e a velha máquina de escrever, com as quais ele era mestre e de onde saíam incríveis histórias, personagens inesquecíveis que viviam envoltos em tramas que nos prendem do início ao fim de seus livros.  Essa pintura em forma de obra literária viajou o mundo levando um pouco da rica cultura brasileira, as comidas, os sotaques, as características da nossa sociedade, a história e as crenças e religiões do povo baiano, mostrando lá fora a beleza e a riqueza de nosso povo. Jorge Amado mostrou para o mundo o que o Brasil tem de mais precioso, seu povo e sua cultura.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Escritora

 

Fontes de Pesquisa:

http://ultimosegundo.ig.com.br  IG/ Educação (reportagem : “Capitães da Areia, a narrativa pela ótica de meninos de rua” de Marina Morena Costa, iG São Paulo).

www.releituras.com/jorgeamado – Projeto Releituras- Arnaldo Nogueira Jr.
www.educacao.uol.com.br/biografias

           

               CAROLINA MARIA DE JESUS

 

A história da grande escritora brasileira, mulher negra, pobre e favelada, que apesar da total falta de recursos, desafiou as próprias dificuldades e revelou seu imenso talento ao Brasil e ao mundo.

 

             Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento  - Minas Gerais em 1914, numa área rural em uma família muito simples, com pais analfabetos. Ela própria só frequentou a escola por dois anos. Mesmo assim, apesar da origem humilde e de todas as dificuldades que enfrentou ao longo da vida é considerada uma das maiores escritoras brasileiras.

              Ela teve uma infância muito difícil de pobreza e de maus tratos, tendo começado a trabalhar muito cedo para ajudar a família. Aos 33 anos, com a morte da mãe, Carolina veio morar em São Paulo e foi trabalhar como doméstica na casa de um médico, onde nas horas vagas ela lia os livros da biblioteca do patrão . Carolina foi doméstica, lavadeira e passadeira e também catadora de papel. Teve três filhos, que criou e educou sozinha. A escritora construiu na favela do Canindé, para ela e a família, com as próprias mãos, uma casa, com material reciclado que ela encontrava no lixo.

                Em São Paulo, sempre lendo muito, ela começou a escrever em papéis e cadernos que encontrava pela rua. Um dia ela estava em uma praça, próxima de sua casa com seus cadernos e viu garotos destruindo os brinquedos que havia no local e começou uma discussão com eles, isso chamou a atenção de um jornalista que também estava lá, Audário Dantas, que ao conversar com ela percebeu que ali estava uma mulher muito especial, ele viu os seus escritos e entendeu que se tratava de um talento nato e extraordinário, uma mulher de periferia, pobre e negra, que sem nenhum recurso escrevia muito bem. Ele então ajudou Carolina de Jesus a divulgar seu trabalho. E em 1960 ela publicou seu primeiro livro: Quarto de Despejo- Diário de uma Favelada que foi traduzido em 14 línguas e vendido em mais de 40 países. A primeira edição vendeu mais de 1 milhão de cópias, sendo que a primeira tiragem foi vendida em menos de 1 semana.

                  Quando ficou famosa com esse livro Carolina passou a ser hostilizada na favela do Canindé, onde morava. Carolina Maria de Jesus é uma grande escritora brasileira, negra, pobre e periférica que foi contemporânea de Clarice Lispector, enquanto Clarice Lispector é muito conhecida pelos brasileiros, Carolina Maria de Jesus é muito pouco conhecida e divulgada no Brasil, mesmo sendo uma grande e importante escritora, que fez muito sucesso fora do país Isso faz parte de um racismo estrutural vigente no Brasil até hoje.

                    A venda do livro Quarto de Despejo rendeu 150.000 dólares, uma grande quantia para a época, mas a escritora recebeu apenas uma pequena parte deste valor.

                    Ela teve 5 livros publicados em vida e alguns  póstumos. O livro Quarto de Despejo, mundialmente conhecido, completou 60 anos em 2020.  O livro Casa de Alvenaria foi publicado em 1961, e os livros: Provérbios e Pedaços da Fome foram publicados em 1963. E em 1977 ela publicou Diário de Bitita.  As obras póstumas são Meu Estranho Diário em 1996, Antologia Pessoal em 1996. Ela deixou mais de 5.000 páginas inéditas, escritas à mão em 58 cadernos. Sendo 7 romances, 100 poemas, 4 peças de teatro, 12 sambas enredo, 60 histórias curtas.

                     Carolina Maria de Jesus morreu em 1977 de insuficiência respiratória.

                     Essa grande escritora brasileira que retratou em seus livros a dura realidade das mulheres e homens negros e pobres, moradores das periferias, que a despeito de todos os obstáculos que a vida lhe apresentou, nunca desistiu de escrever, de expor seu talento ao mundo, merece ser mais conhecida por todos os brasileiros, porque ela é a prova viva de que o talento não escolhe o berço de ouro para aflorar, e pode estar em todos os lugares, onde menos é esperado. Assim como Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, que era negro e nascido num morro carioca, Carolina tem um valor todo especial, por ser a voz e a escrita  de uma mulher negra, pobre e periférica na literatura, que fala  dessa perspectiva, sobre a realidade brasileira.

 

Artigo de Ivana Lopes – Escritora e Tradutora

 

Fonte de Pesquisa:

https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2019/03/quem-foi-carolina-maria-de-jesus

Canal Tempero Drag/ Rita Von Hunt

www.letras.ufmg.br

brasilescola.uol.com.br

www.ebiografia.com

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