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ESCRITORES/VIDA E OBRA 

Todos os artigos publicados neste site  são de minha autoria   

Clarice Lispector - uma escritora extraordinária 
                                BY IVANA LOPES

Existem no Brasil muitas escritoras já consagradas dentro do universo literário, outras menos conhecidas dos leitores e da crítica. Mas há uma em particular que se destaca e é reconhecida em nosso país e fora dele. Clarice Lispector.

Em 2015 Clarice teve um de seus livros incluído na lista dos 100 melhores do ano feita pelo “The New York Times”. Com o título:“The complete stories”- traduzido por Katrina Dodson e edição de Benjamin Moser, biógrafo de Clarice, a obra foi publicada nos Estados Unidos e é uma coletânea de contos. Na resenha do livro que foi publicada em 27 de julho de 2015, o crítico Terrence Rafferty afirma que o livro é “notável” e que a escritora é “arrebatadora”.

Clarice Lispector é considerada uma das maiores escritoras do Brasil. Ela nasceu na Ucrânia e veio para o Brasil com apenas dois meses de vida. Passou toda a infância no nordeste. Sempre leu muito, tanto autores nacionais quanto os estrangeiros. Formada em Direito, trabalhou como jornalista e tradutora sempre escrevendo para jornais e revistas para se manter.

Sua escrita é intimista e seu estilo é único e inovador. Em sua obra sempre, muito intensa, a escritora aborda constantemente, tudo aquilo que não é palpável ou facilmente percebido, mas aquilo que se passa no interior das pessoas, às vezes no seu inconsciente.

Em seus contos e romances Clarice aborda, como nenhuma outra escritora, o universo feminino, com suas nuances, sentimentos e percepções mais íntimas e muitas vezes quase indecifráveis. Sua forma de contar uma história, sua linguagem, não tem dentro da nossa literatura, nada que se compare.

Escolhi essa grande escritora para tema de meu primeiro artigo porque além de ser uma de minhas favoritas, ela é uma “voz” feminina que soube escrever como ninguém sobre a alma humana. Em sua obra ela nos convida ao auto-conhecimento, a olhar pra dentro de nós, pra nossa alma, pra nossa essência, nos prepara para o encontro com o outro, porque só a partir do momento que nos conhecemos podemos estender o olhar para o mundo e para quem nos cerca, com mais habilidade para entender e interagir com o que está fora de nós.

Sugiro, para quem ainda não leu Clarice Lispector, começar pelos seus contos, para ir entrando no universo dessa extraordinária escritora, devagar, aproveitando cada página. Acredito que vai ser difícil não se apaixonar pela sua narrativa envolvente.

 

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista 

 

 

Fontes de pesquisa:

-Alguns comentários extraídos da crítica de Terrence Rafferty publicada em 27 de julho de 2015

-educacao.globo.com./literatura

-Wikipedia

-g1.globo.com de 30 de novembro de 2015

LYGIA F. TELLES- A GRANDE ESCRITORA E SUAS OBRAS

BY IVANA LOPES

A escritora Lygia Fagundes Telles nasceu em 1923 em São Paulo, filha de um advogado e de uma pianista, Lygia se formou em direito e em Educação Física, mas já na infância escrevia histórias em seus cadernos e lia para a família, demonstrando a sua vocação para as letras. Com 15 anos de idade publicou seu primeiro livro: Porão e Sobrado, um livro de contos.

A escritora nunca permitiu que esse primeiro livro fosse reeditado por considerar que sua escrita na época era prematura e que ele deveria ficar esquecido. Lygia considera o livro Ciranda de Pedra publicado em 1954 como o marco inicial de sua carreira. Esse livro, que foi aclamado pela crítica, foi adaptado para a TV como novela por duas vezes.

Enquanto cursava Direito ela se tornou membro do grupo de redatores das revistas Arcádia e XI de agosto e conheceu os escritores Oswald e Mário de Andrade. Foi também amiga de Carlos Drummond de Andrade e de Erico Veríssimo que a incentivaram a escrever.

Lygia Fagundes Telles é uma escritora brasileira conhecida e consagrada no Brasil e no exterior. Membro da Academia Brasileira de Letras, da Academia Paulista de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa. Seus livros já foram muitas vezes premiados aqui e em outros países. Em 2005 ela recebeu a maior honra que um escritor em língua portuguesa pode receber, o Prêmio Camões, pelo conjunto de sua obra.

Essa escritora premiadíssima, que aos 92 anos foi indicada ao Prêmio Nobel de Literatura e que já foi traduzida em várias línguas foi sempre extremamente atuante, além de escrever sempre participou de congressos, debates, conferências e seminários.

Lygia Fagundes Telles é uma grande escritora brasileira que vale a pena ser conhecida, por todos que  ainda não leram seus livros, e ter suas obras revisitadas por todos que já são seus leitores. Muito engajada em seu tempo, utilizando uma linguagem refinada, que pode ser chamada de poética, mas escrita em prosa, em seus romances e contos, ela aborda de maneira intimista e psicológica, temas urbanos e sociais, como a solidão, a liberdade, o envelhecimento e faz reflexões sobre o universo feminino. Em seus textos os fatos ficam em segundo plano havendo muitas vezes um monólogo interior dos personagens. Sua obra é extremamente atual, porque os assuntos que são objeto de seus livros continuam sendo do interesse de todos nós, no contexto onde estamos inseridos hoje, as nossas angústias, questionamentos, o papel da mulher em nossa sociedade, o desenvolvimento de nossa plenitude individual tão cerceada pela realidade política e social dessa nossa era tecnológica. Sua obra nos convida à reflexão de todos esses temas, nos ensina a ter um olhar para o nosso interior e a partir desse olhar entender e questionar o que nos cerca, tornando o leitor um agente transformador e participante de seu tempo.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

Fontes de pesquisa:

Pontocritico.org>Espaço do Leitor-Bethânia Mota Calixto

www.academia.org.br

www.infoescola.com – texto de Ana Lucia Santana

escolavivabiblioteca.blogspot.com

blogentrenos.wordpress.com

Foto de Lygia Fagundes Telles (Livre Domínio Público)

A grande poeta de Goiás, Cora Coralina ou Ana Lins do Guimarães Peixoto, seu nome de batismo, foi uma mulher forte, muito à frente das mulheres de seu tempo. A “Aninha”, como ela própria diz em um de seus versos, onde ela completa: “a menina feia da ponte da Lapa”. A mulher, que não estava dentro dos padrões e do que era esperado dela pela sociedade de sua época, nasceu em 1889 em Goiás, frequentou apenas o ensino primário, mas  escrevia lindos versos desde criança. Apesar de ter escrito desde muito cedo, em folhas de caderno, só aos 75 anos de idade teve seu primeiro livro publicado.

Cora foi uma mulher muito especial, independente de rótulos, sua atitude diante da vida sempre foi de coragem frente às dificuldades. Ela teve sempre uma postura libertária, diferente das mulheres da sua geração.

Ainda bem jovem fugiu de sua cidade para se casar com seu grande amor, o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas. Anos mais tarde, ao ficar viúva tornou-se doceira, criando e sustentando os filhos sozinha. Cora era valente e decidida e os filhos , na época, eram para ela prioridade, mas apesar das dificuldades nunca deixou de escrever.

Durante o período que esteve casada, chegou a ser convidada a participar da Semana de Arte Moderna, mas foi impedida pelo marido. Quando morava em São Paulo em 1934, como que por ironia do destino, ela  trabalhou vendendo livros na editora José Olímpio, a mesma editora que 31 anos mais tarde publicaria seu primeiro livro: “O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais”.

Cora Coralina durante toda a vida  lutou por seu sonho de viver como poeta e escritora, mas o reconhecimento só veio quando o grande poeta Carlos Drummond de Andrade em 1980, ao ler o trabalho dela, se encantou com seus versos e teceu muitos elogios em público. A partir desse momento com o reconhecimento vieram as entrevistas em programas de TV, os prêmios e muitas homenagens. Ela recebeu o Prêmio Juca Pato em 1983 como Intelectual do Ano e o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Goiânia.

Por sua grande importância não só dentro da literatura nacional mas também pelo seu importante papel de verdadeira ativista das questões femininas,  Cora Coralina já foi tema de filme: Cora Coralina – Todas as Vidas, dirigido por Renato Barbieri e em sua terra natal, Goiás, existe um projeto: Mulheres Coralinas da professora Ebe M. de L. Siqueira, inspirado na grande poeta, que busca resgatar a cidadania de 150 mulheres excluídas da sociedade.

Além de poemas Cora Coralina também escreveu contos, literatura infantil e artigos para jornais. Em sua poesia ela escreve sobre o dia a dia e sobre a  vida simples do interior de Goiás. Cora é um grande nome da nossa literatura e sua obra recebeu influências bem variadas, desde grandes escritores clássicos como Gregório de Matos, Camões e Olavo Bilac e histórias de nosso folclore até as antigas histórias da Carochinha.

Com certeza é essa variedade de influências somadas à enorme gama de experiências duras, de desafios e de lutas que essa mulher enfrentou ao longo da vida, que acabaram resultando nessa riqueza de belos versos que Cora Coralina colocou em seus livros. Através da visão “doce” da alma de confeiteira ela criou seus poemas que nos tocam fundo porque tem muita verdade e beleza neles. A poeta que era ao mesmo tempo doceira, deixou para  os seus leitores um retrato desse Brasil do interior, dessa realidade, que muitas vezes é bem amarga, mas  escrita em “doces” versos. O poeta tem esse dom de refletir a realidade a sua maneira, com uma visão não menos real do que a nossa, mas com certeza escrita de uma maneira que a torna muito mais interessante e bela. Cora Coralina é uma figura ímpar dentro da nossa literatura, ela é a poeta e escritora nata, que pelos revezes da vida só chegou ao grande público em idade avançada, a mulher de muita garra que nunca desistiu de escrever , que apesar das dificuldades reescreveu sua própria história e provou que vale a pena acreditar em seus sonhos e lutar por eles.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista,

 

Nota da autora: Como se pode observar optei novamente em um texto meu pelo uso da palavra “poeta” ao me referir a uma mulher que escreve poesia, no caso Cora Coralina.Tanto a palavra poeta quanto poetisa constam nos dicionários e ambas estão corretas, segundo os gramáticos, mas nos últimos anos tem havido uma discussão entre os especialistas sobre o termo poetisa, que tem para alguns uma conotação pejorativa, portanto como fiz no texto de Cecília Meireles, Cora Coralina é descrita como poeta equiparada aos grandes poetas do sexo masculino dentro da nossa literatura.

 

Fonte de Pesquisa:

http://pensador.uol.com.br

www.biografia.com

www.infoescola.com/escritores (Cristiana Gomes)

Comentários da Professora da Universidade Estadual de Goiás, Ebe Maria de Lima Siqueira sobre Cora Coralina.

www.abcdoabc.com.br

ERICO VERISSIMO E SUA OBRA-         um retrato do nosso povo

              By Ivana Lopes

Erico Verissimo antes de se tornar reconhecido como grande escritor, foi tradutor, deu aulas de literatura e inglês, foi bancário, trabalhou numa seguradora e ainda jovem chegou a ser proprietário de uma farmácia.

O escritor nasceu no Rio Grande do Sul na cidade de Cruz Alta em 1905. Desde criança lia muito. Com apenas 13 anos, além dos autores nacionais, lia também Walter Scott, Tolstoi, Émile Zola, Dostoievski e Eça de Queirós. Estudante de um colégio interno, se destacava nas aulas de literatura, inglês e francês.

Em 1922, com a separação dos pais, arranjou emprego como balconista no armazém de seu tio para ajudar a família. Apesar das dificuldades continuava lendo muito nas horas vagas. Foi neste período que Verissimo escreveu seus primeiros textos, enquanto paralelamente  traduzia  do francês e do inglês trechos de obras de escritores estrangeiros. Nessa mesma época largou o trabalho no armazém para trabalhar no Banco Nacional do Comércio.

Com 18 anos Erico Verissimo lia Oswald e Mário de Andrade e além deles, Nietzsche e Ibsen. Era sem dúvida um leitor com gosto e interesse muito diferenciados para alguém da sua idade.

Erico e a família se mudaram para Porto Alegre e devido a problemas de saúde ele perdeu o emprego de bancário, a família voltou para Cruz Alta e lá ele se tornou sócio de uma farmácia com um amigo. Passou também a dar aulas de literatura e inglês. Sem nunca ter deixado o hábito da leitura e cada vez mais interessado pela literatura mundial ele lia Oscar Wilde, Bernard Shaw, Anatole France e muitos outros.

Em 1929 foi publicado pela primeira vez um conto seu: “Chico: um conto de Natal”. No mesmo ano em Porto Alegre foram publicados mais três contos do escritor. Ao enviar um conto para o jornal “Correio do Povo” ele foi publicado sem nem mesmo ter sido lido, tal era já o seu prestígio no meio literário da região.

Em 1930, com o propósito de viver exclusivamente de seu trabalho como escritor, Erico Verissimo se mudou para Porto Alegre, onde conheceu, entre outros nomes da literatura local, o escritor Mario Quintana e se tornou redator na Revista do Globo. Se casou no ano seguinte e teve pela primeira vez uma tradução sua publicada: “O sineiro” de Edgar Wallace.

Durante o governo de Getúlio Vargas o escritor Erico Verissimo chegou a ser acusado de comunista sendo obrigado a depor. Mesmo em meio a esses incidentes ele publicou nessa época vários romances que ganharam prêmios importantes. Numa viagem ao Rio de Janeiro conheceu Carlos Drummond de Andrade e José Lins do Rego.

Em 1936 foi publicado seu primeiro livro infantil: “As aventuras do avião vermelho” e o escritor lançou na Rádio Farroupilha, um programa de auditório para crianças chamado “Clube dos três porquinhos” . Neste mesmo ano nasceu seu primeiro filho Luís Fernando Verissimo, que se tornou escritor como o pai.

A partir de 1937, durante o “Estado Novo”, o governo impôs a Verissimo que todas as histórias criadas por ele para seu programa de Rádio teriam que passar pela aprovação da censura antes de irem ao ar. Não se submetendo a isso, numa atitude de protesto, ele encerrou o programa.

Em 1938 Erico Verissimo lançou o livro “Olhai os lírios do Campo” que foi um de seus maiores sucessos, esse livro foi adaptado para o cinema e muitos anos mais tarde para a TV, se tornando uma novela exibida pela Rede Globo. Trabalhando para a Editora Globo, o escritor foi um dos responsáveis pela criação de séries que fizeram muito sucesso como a “Nobel” e “Biblioteca dos Séculos”  com traduções de livros de Virginia Wolf, Balzac e Proust entre outros. Mas a censura no país continuava atuante e para escapar dela o escritor publicou dois de seus livros numa editora “secreta”, onde eram publicados livros que sabidamente desagradariam o governo. Para proteger a família da ditadura de Vargas ele se mudou com eles para os Estados Unidos e passou a dar aulas de Literatura e História do Brasil na Universidade da Califórnia onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa.

Erico Verissimo escreveu uma trilogia chamada de “O tempo e o vento” que foi muito elogiada pela crítica e que levou 15 anos para ser concluída. Essa trilogia foi adaptada, muitos anos mais tarde, para a TV, como minissérie e exibida pela Globo. O autor teve outro trabalho seu, o livro: Incidente em Antares, transformado em minissérie pela mesma emissora e estrelado pela atriz Fernanda Montenegro.

O escritor faleceu em 1975 com 70 anos vitimado por um infarto fulminante.

Erico Veríssimo foi um homem culto, e um escritor diferenciado, que desde muito cedo leu muito, tanto os grandes autores nacionais quanto os internacionais e essa “cultura literária” influenciou diretamente a sua obra, que foi traduzida em mais de 10 idiomas. Ele foi reconhecido e admirado inclusive dentro do próprio meio literário. Entre seus leitores estão grandes nomes, como Jorge Amado, que se confessou um grande admirador de seus livros. Nas palavras do próprio Jorge Amado, “…tenho reencontrado minha gente, o bom e o ruim, a alegria e a tristeza, a opressão e a luta pela liberdade, o Brasil inteiro, cerne da obra de Erico Verissimo, pelo mundo…” (trecho extraído de Contador de Histórias, Erico Verissimo pelo mundo afora, Jorge Amado p.34).

Erico Veríssimo é um dos maiores escritores do século XX e um dos poucos escritores brasileiros que conseguiu, após ter conquistado o reconhecimento, viver exclusivamente de seus livros. Apesar de ter escrito um grande épico gaúcho “O tempo e o vento”, sua obra não é regionalista, mas legitimamente brasileira. Pertencente à corrente Modernista, seus livros retratam a realidade urbana, muitos de seus personagens são pessoas que deixaram o interior para viver na cidade grande. Há sempre, em todo o seu trabalho, uma evidente crítica à sociedade. Em seus romances e contos o escritor mostra ao mundo a cara do Brasil, com as gritantes diferenças e injustiças sociais. O conjunto da obra de Erico Veríssimo permanece atualíssima, porque a razão de suas críticas, os problemas sociais em nosso país, continuam existindo e muitos com o passar dos anos foram até agravados. A beleza de seu trabalho está em que, através de seu olhar de escritor, podemos aprender muito sobre o Brasil, sobre nossa história, nossas origens. Um olhar que não para no macro cosmos da trama, mas vai ao fundo da alma de cada personagem, revelando as fraquezas de caráter de cada um, seus conflitos íntimos, os pequenos grandes atos de heroísmo anônimos do cidadão comum. Seus livros nos prendem e cativam por que conseguimos, enquanto leitores, nos ver e nos identificar com a humanidade dos personagens e de suas histórias.

 

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista, 

 

Fontes de Pesquisa:

                                                      

www.releituras.com (Projeto releituras Arnaldo Nogueira Jr.)

 www.ebiografia.com

 www.educacao.uol.com.br

 www.redes.modernas.com.br

 www.estudopratico.com.br/biografia–de-erico-verissimo

 miltonribeiro.sul21.com.br

 Foto de livre domínio público

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE  

O GRANDE MESTRE DA PALAVRA

O poeta Carlos Drummond de Andrade  nasceu em Itabira do Mato Dentro em Minas Gerais em 31 de outubro de  1902. Estudou em Belo Horizonte e também em Nova Friburgo no Rio de Janeiro em um colégio de Jesuítas, ficando pouco tempo neste último. Quando retornou a Minas começou, ainda bem jovem, a sua carreira de escritor  escrevendo para o jornal “Diário de Minas”.

Em 1924, após a Semana de Arte Moderna, Drummond conheceu Oswald e Mário de Andrade e Tarsila do Amaral, ilustres representantes do Modernismo, e passou a se corresponder com eles.

O dom para as letras despontou bem cedo na vida desse grande poeta, mas por imposição da família, que exigia dele um diploma, Carlos Drummond se formou em Farmácia em 1925, nesse mesmo ano ele se casou e criou com colegas mineiros  “A Revista”, que não teve vida longa, mas que contribuiu para fortalecer o movimento modernista em Minas Gerais .

O poeta trabalhou como  professor em sua cidade natal depois se mudou para Belo Horizonte onde foi redator-chefe do “Diário de Minas” e mais tarde se tornou redator no jornal “Minas Gerais”. Escreveu crônicas para diversos jornais, como o “Correio da Manhã” e o “Jornal do Brasil”. Trabalhou também no jornal comunista “Imprensa Popular” a convite de Luís Carlos Prestes.

Em 1934 ele entrou para o serviço público onde ficou a maior parte de sua vida até se aposentar, mas sem jamais deixar de escrever, publicou muitos livros em verso e prosa, sua produção literária é rica e grandiosa, sua obra é uma das  mais importantes dentro da literatura brasileira do séc. XX. Em seu trabalho figuram verdadeiras obras primas da poesia brasileira. Ele escreveu além de poesia, contos, crônicas e literatura infantil. Também traduziu escritores como Balzac, Marcel Proust, Garcia Lorca e Molière entre outros.

Seus versos são livres, sem métrica. Sua poesia é concreta e objetiva, marcada pela linguagem coloquial repleta de ironia e humor onde o poeta explora em seus temas a realidade e o cotidiano que o cercam, fala do indivíduo, da terra natal, da família e dos amigos, fala do amor (sentimento mas não romântico). Seus primeiros textos já tinham nítidas características do modernismo. Em seus versos ele transparece um desencantamento com o mundo e com as questões sociais e demonstra a vontade de transformar  tudo isso. Há a constante inquietação existencial, o descontentamento que questiona tudo até o próprio trabalho, a poesia e a escrita. Em determinados momentos o poeta explora a visão material da palavra, a letra em si, sua colocação no texto, seu som.  Muitas obras do poeta foram traduzidas para o francês, inglês, espanhol, sueco, tcheco entre outras línguas.

O grande poeta Carlos Drummond de Andrade foi antes de tudo um questionador de seu tempo, da realidade, do indivíduo frente às dificuldades, desalentado pela impossibilidade de transformar  o que vê e sente. Um de seus poemas mais famosos “José” ilustra bem essa característica da obra de Drummond:

                                            “E agora, José?

                                             A festa acabou

                                             a luz apagou

   o povo sumiu,

 a noite esfriou,

 e agora, José?

 E agora, você?

              você que é sem nome,

               que zomba dos outros,

           você que faz versos,

         que ama, protesta?

     e agora, José?…”

                                                                                                                                                       (trecho do poema “José”)

 

Um  outro poema de Drummond também bastante conhecido “ No meio do caminho” , escrito em 1924 ,por ter fortes características do modernismo foi alvo de duras críticas no início, para anos mais tarde receber  inúmeros elogios. Isso ocorreu muito mais pelo fato de que, no início quando foi publicado,  não foi compreendido nem aceito por muitos críticos literários como aconteceu com o próprio movimento Modernista. Mas o tempo mostrou que a genialidade do poeta estava também expressa nesses versos, aparentemente repetitivos e simples, a “pedra” bruta  da palavra era na verdade um “diamante” que causou polêmica  e continua  a nos intrigar e interessar , mostrando que na poesia de Drummond é exatamente  nessa forma “justa” , “concreta” do verso que reside o seu valor e o seu encanto.

No meio do caminho

“No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma  pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.”

Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro em 17 de agosto de 1987 doze dias após o falecimento de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.  Ele foi um dos maiores poetas do século XX, um grande mestre da palavra, que soube retratar como ninguém os conflitos existenciais, transformando em versos e crônicas os questionamentos que todos temos em muitos momentos da nossa vida, mas que só um poeta e escritor da grandeza de Drummond consegue traduzir tão bem.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

 

Fontes de Pesquisa:

www.cultura.estadao.com.br (Raquel Cozer, O Estado de São Paulo 24/11/2010)
www.ebiografia.com
www.releituras.com/drummond
www.lusofoniapoetica.com – Manuel C. Amor
www.educacao.uol.com.br

 

Toda semana publico um artigo sobre literatura aqui em meu site, também nos sites: http://damasdecopas.net.br na minha coluna Universo Literário e  no  www.arcaliteraria.com.br na minha coluna Ivana Lopes. Já estão publicados artigos sobre a vida e a obra de :

  MACHADO DE ASSIS

CLARICE LISPECTOR

 

CECÍLIA MEIRELES

 

LYGIA FAGUNDES TELLES

 

JOÃO CABRAL DE MELO NETO

 

CORA CORALINA

 

MARIO QUINTANA

 

ERICO VERISSIMO

 

FLORBELA ESPANCA

 

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

FERNANDO PESSOA

 

VINICIUS DE MORAES

JORGE AMADO

 

MANUEL BANDEIRA

CASTRO ALVES

 

JOÃO GUIMARÃES ROSA

ARIANO SUASSUNA

GRACILIANO RAMOS

JOSÉ LINS DO REGO

A POESIA DE CECÍLIA MEIRELES

                     BY IVANA LOPES
 

Cecília Meireles é considerada uma das maiores poetas da literatura brasileira. Poeta, escritora, tradutora, dramaturga, professora e pintora. Possuía muitas habilidades e talentos e desempenhou todos esses papéis magistralmente. Foi a primeira mulher no Brasil a ser reconhecida pela sua grande importância dentro da literatura, sendo a primeira escritora premiada pela Academia Brasileira de Letras em 1938 com seu livro “Viagem” que foi relançado em 2012 pela Editora Global.

Além de ser uma grande poeta, ela tinha uma enorme paixão pela educação e pela profissão de professora que exerceu por longo tempo.

Dentro da área da educação Cecília deixou uma grande contribuição. Em 1932 ela assinou junto com outros educadores o Manisfesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento que foi um marco da evolução educacional no país. Foi também a fundadora da 1ª biblioteca infantil no Brasil.

Dizem que coincidências não existem, mas um fato curioso aconteceu em sua infância quase como um aviso de que aquela menina estava predestinada a trilhar o caminho da poesia e a se tornar uma grande poeta. Ao concluir o ensino primário ela recebeu uma medalha de distinção e louvor entregue por Olavo Bilac (grande poeta) que era na época inspetor escolar.

É difícil falar de Cecília Meireles, porque a admiração e veneração por ela vêm de longa data. Quando admiramos tanto alguém, se torna complicado colocar isso em palavras, por mais que nos esforcemos para enumerar todas as qualidades de sua obra parece sempre que o texto não está à altura desse grande talento.

Cecília nasceu no Rio de Janeiro em 1901 e foi criada pela avó materna após perder toda a sua família. O pai e os irmãos morreram antes de seu nascimento e a mãe quando tinha 3 anos. Sua infância foi solitária e essa solidão está presente em seus versos. Sua obra tem como tema a solidão, a finitude das coisas, o amor, a morte, o tempo. Seus versos são intimistas e cheios de musicalidade. Construídos de forma perfeita e delicada. O mais famoso de seus livros, O Romanceiro da Inconfidência, foi considerado, além de tecnicamente perfeito, a obra mais original escrita durante o Modernismo.

Cecília Meireles adorava crianças e em 1964 escreveu para elas o livro Ou Isto ou Aquilo, com poemas lúdicos para atrair a atenção infantil.

Os poemas de Cecilia Meireles são fascinantes, delicados, tocam nossa alma, tocam o mais fundo do ser. Mesmo quando ela escreve em prosa há tanta riqueza na construção do texto, tanta beleza e musicalidade, que são fruto não só da sua enorme habilidade técnica, mas também da capacidade de colocar em palavras sentimentos e sensações.

A poesia é uma das mais belas formas de manifestação da arte, da literatura. É exatamente isso que encontramos nos versos de Cecília Meireles, beleza.  Essa grande mestra da poesia nos deixou uma vasta obra que vale a pena ser conhecida, apreciada, principalmente em nossos dias tão cheios de tecnologia, de rapidez e de insanidade, onde os sentimentos humanos muitas vezes parecem não existir mais, onde na presença do progresso, da evolução vertiginosa das coisas não há espaço para a sensibilidade. Mas onde percebemos, que pelo contrário, as pessoas andam solitárias e carentes de afeto. O progresso muito acelerado de nossos dias nos afastou da nossa essência humana. Um caminho de volta ao nosso destino de felicidade e de encontro com o outro, do nosso autoconhecimento, pode ser feito através da poesia.

……………………………………

Nota da autora do artigo: Embora nos dicionários conste o feminino da palavra “poeta” como “poetisa” optei por usar em meu texto o termo “poeta” ao me referir a Cecília Meireles porque ela própria exigia ser chamada assim , ela atribuía à palavra “poetisa” uma conotação pejorativa, sendo aquela mulher (qualquer uma) que faz versos, já o “poeta” significava para ela uma autora de mérito, equivalente aos homens que foram consagrados na literatura por escrever poesia. Em seu famoso poema Motivo, ela escreve:

 “ Não sou alegre nem sou triste

  Sou poeta”

Por se tratar de um texto sobre essa grande mestra nada mais justo do que respeitar a opinião dela. (fonte dessas informações: www.jornaldepoesia.jor.br /José Peixoto Junior/Dab Abi Chahine Squarisi)

 

 Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

Fontes de pesquisa:

Site: enciclopedia.itaucultural.org.br

www.ebiografia.com

www.vende4.com

www.globaleditora.com.br

Foto (de livre domínio público)

JOÃO CABRAL DE MELO NETO-O ARQUITETO DA PALAVRA

  By Ivana Lopes

João Cabral de Melo Neto é um grande poeta brasileiro com características únicas dentro da literatura. Sua poesia é moderna e nada tem de romântica ou de sentimentalista, nem é decorrência de uma inspiração ou de um momento criativo, como afirmava o próprio poeta a respeito de seus versos. Na verdade seu trabalho é fruto de uma “construção” linguística rigorosa, seus poemas são elaborados com cuidadosa simetria, pode-se dizer que são “traçados” e ordenados como se fossem um projeto feito por um arquiteto, por isso não é à toa que o poeta foi chamado de “arquiteto da palavra”.

Ele utilizou com grande maestria as ferramentas linguísticas para construir sua obra, forte e muito objetiva, calcada na realidade, com a nítida preocupação de fazer não só uma crítica social mas uma verdadeira denúncia das injustiças de seu tempo e do contexto  que o cercava. O grande poeta foi um homem muito engajado, preocupado com as questões sociais numa época cheia de transformações, seu trabalho reflete o tempo todo essa preocupação.

Sua obra mais famosa é Morte e Vida Severina escrita entre os anos de 1954 e 1955, que já foi encenada no teatro, com música de Chico Buarque, em várias cidades brasileiras e também na França e nas principais cidades portuguesas. Esse trabalho lhe rendeu, na França, o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival de Nancy.

Em 1968 João Cabral de Melo Neto passou a fazer parte da Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira número 6. Em 1990 recebeu o Prêmio Luis de Camões, o prêmio mais importante que um escritor em língua portuguesa pode receber. Além disso foi indicado inúmeras vezes ao Prêmio Nobel de Literatura.

O poeta nasceu em Recife em 1920 e passou toda a sua infância nos engenhos de açúcar, no interior de Pernambuco. João Cabral de Melo Neto teve parentes ilustres no mundo das letras, ele era primo de Manuel Bandeira e de Gilberto Freyre e com 18 anos começou a frequentar os círculos literários. Quando ele e a família se mudaram para o Rio de Janeiro, conheceu Carlos Drummond de Andrade e passou a se reunir com um grupo de intelectuais, amigos de Drummond.

Em 1945 João C. de Melo Neto se tornou diplomata passando, por conta do trabalho, a viajar e estabelecer residência nas mais diversas partes do mundo. Chegou inclusive a trabalhar nas Nações Unidas.

Em seus últimos anos de vida, acometido por uma doença degenerativa, que conforme lhe foi prevenido pelos médicos, o tornaria cego, o poeta deixou de escrever. Privado de exercer seu talento ele se tornou um homem calado e triste. Apesar dos esforços de sua segunda esposa que chegou a redigir alguns textos criados por ele. Em 09 de outubro de 1999 o poeta faleceu.

João Cabral de Melo Neto é um grande poeta, um grande nome da literatura brasileira, que muito contribuiu com sua obra para a cultura e para a conscientização dos leitores a respeito dos problemas sociais do seu país. Sua obra permanece atualíssima porque retrata situações e questões que permanecem não resolvidas dentro do nosso conturbado cenário nacional, palco ainda de desigualdades e injustiças sociais. Ele desempenha, com os poemas que deixou, um importante papel do artista, que é retratar, questionar o seu tempo através da sua obra, ajudando a provocar, senão a transformação da dura realidade, pelo menos o despertar da consciência de cada um e a construção da nossa própria cidadania. 

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista 

 

Fontes de Pesquisa:

www.releituras.com/joaocabral

educacao.globo.com/literatura

slideplayer.com.br

guiadoestudante.abril.com.br

armonte.wordpress.com

foto de livre domínio público

MARIO QUINTANA-o grande              poeta do cotidiano

             By Ivana Lopes

Mario Quintana foi poeta, escritor, jornalista e  tradutor. Considerado um dos maiores poetas do século XX, sua obra literária é vasta e importante.

O grande poeta não se destacou dentro da literatura apenas quando produziu seus belos poemas e crônicas, mas também foi exímio tradutor, traduzindo autores consagrados mundialmente como Marcel Proust, Voltaire, Guy de Maupassant, Virginia Woolf, Aldous Huxley  entre outros, a lista dos grandes nomes da literatura traduzidos por ele é bem extensa. Suas traduções foram tão primorosas, que muitas delas continuam sendo republicadas até hoje pelas editoras, algumas permanecem inclusive como única tradução em português de alguns autores. O poeta exerceu a tradução até o final de sua vida.

A poesia de Mario Quintana tem a marca dos poetas líricos, mas escrita com a total liberdade característica do Modernismo. É um lirismo que trata com naturalidade de assuntos do cotidiano. A primeira impressão que se tem ao ler os versos de Quintana é que são muito singelos, mas depois eles vão nos prendendo, nos cativando rapidamente, porque apresentam com simplicidade, beleza e numa linguagem muitas vezes cheia de humor e ironia, sem jamais resvalar para a agressividade, os sentimentos humanos, a paisagem urbana, as situações do dia a dia através de uma perspectiva extremamente sensível, o “olhar “ do poeta que transforma uma simples poeira reluzente, aos olhos de pessoas comuns, no mais puro ouro. Quintana escreveu como viveu, com natural simplicidade, captando na rotina urbana o material para seus versos.Como o próprio poeta disse certa vez: “Minha vida  está em meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão”.

O poeta Mario Quintana nunca se casou nem teve filhos, morou durante toda sua vida em hotéis e pensões na capital gaúcha, viveu por 12 anos num mesmo hotel, Magestic, que depois de sua morte foi transformado na Casa de Cultura Mario Quintana.

Gaúcho nascido em Alegrete  em 1906, filho de um farmacêutico e de uma dona de casa. Desde criança demonstrava interesse pela escrita. Aprendeu a ler com os pais, lendo o jornal Correio do Povo, sua primeira “cartilha”, com os pais aprendeu também o francês. Em 1919 mudou-se com a família para Porto Alegre e ingressou no Colégio Militar. Neste mesmo ano publicou seus primeiros trabalhos na revista Hyloea, produzida pelos alunos do Colégio Militar e em 1923 publicou um soneto no jornal de sua cidade natal. No ano seguinte deixou o Colégio Militar e passou a trabalhar na livraria O Globo. Em 1925 voltou para Alegrete para trabalhar na farmácia do pai. No intervalo de apenas um ano, perdeu a mãe e o pai.  Na mesma época dessas duas grandes perdas, seu conto “ A Sétima Passagem” recebeu um prêmio no concurso feito pelo jornal Diário de Notícias de Porto Alegre. Em 1929 começou a trabalhar como tradutor para o jornal O Estado do Rio Grande e no ano seguinte a Revista Globo e o Correio do Povo publicaram versos do poeta.

Durante a sua vida Mario Quintana teve amigos ilustres dentro da literatura, como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira e era querido e admirado por eles. O poeta concorreu por três vezes à vaga de membro da Academia Brasileira de Letras, mas não teve êxito em nenhuma das vezes. Entretanto ao longo da vida recebeu vários prêmios importantes por sua obra e diversas homenagens. Ao completar 80 anos de idade, teve uma coletânea de seus versos publicada pela Editora Globo “80 Anos de Poesia” e recebeu o Título Honoris Causa pela Universidade Católica do Rio Grande do Sul.  Faleceu com 87 anos em 1994.

Mario Quintana, um grande poeta brasileiro, bastante conhecido dos leitores, muito presente também nas redes sociais, onde seus versos e frases costumam ser frequentemente postados pelos internautas. Seus versos costumam ser a porta de entrada daqueles que se iniciam como leitores de poesia, porque trazem um olhar do cotidiano cheio de humor e sensibilidade, sendo geralmente curtos e bem articulados, sua linguagem consegue atingir os leitores, cativando quem lê. Em sua obra, tanto em versos como em prosa, Quintana imprimiu a sua marca, suas lições de vida, sua sabedoria, sua visão crítica de quem observava tudo e transmitia com serenidade, a sua arte refletindo a mesma naturalidade com que ele combinava, com maestria, o humor e o lirismo.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

 

Fontes de Pesquisa:

O Estado de São Paulo – Ubiratan Brasil(10/08/2012)
-Reportagem: “Italo Moriconi fala da obra de Mario Quintana” .

www.releituras.com (projeto releituras Arnaldo Nogueira Jr.

www.ebiografia.com/mario quintana

www.educacao.uol.com.br

www.brasilescola.uol.com.br (texto de Luana CAstro)
PEREZ, Luana Castro Alves. “30 de Julho – Dia do nascimento de Mario Quintana”; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/mario-quintana.htm>

www.revistabula.com (texto de Carlos Willian Leite)

www.mundofrases.com.br

FERNANDO PESSOA 

o maior poeta da língua

portuguesa, sua obra e sua intrigante personalidade

Fernando Pessoa é considerado o maior poeta da língua portuguesa. Ele nasceu em Lisboa, Portugal em 13 de junho de1888. Ainda  muito criança se mudou com a mãe e o padrasto para a África do Sul, onde viveu por muitos anos e aprendeu a falar inglês praticamente como um nativo da língua inglesa. Por dominar tão bem o inglês e o português, além de poeta foi também  tradutor.

Traduziu de Edgar Allan Poe o famoso poema “The Raven”, “O Corvo”. Ele também dirigiu a revista “Orpheu”, e foi responsável por lançar o movimento Modernista em Portugal. Uma das caracteríscas desse movimento é a liberdade criadora que dá vasão à subjetividade, visão que não mais explica o mundo através da lógica. Em vida teve apenas 4 livros publicados sendo que três deles em inglês, o único em português foi “Mensagem”, considerado sua obra-prima. Fernando Pessoa gostava de ler Byron, Tennyson e Edgar Allan Poe entre outros escritores ingleses. A leitura desses clássicos reforçou seu gosto pela poesia.

Em 1905 Fernando Pessoa voltou para Portugal e se matriculou no curso de Letras da Universidade de Lisboa que não chegou a concluir. Para se manter ele abriu uma tipografia mas a pequena empresa não foi bem sucedida, então passou a traduzir cartas comerciais para empresas estrangeiras e foi desse trabalho que ele viveu até o final da vida. O grande poeta, apesar da sua importância dentro da literatura Portuguesa e mundial, teve uma vida modesta e obscura, semelhante ao que já aconteceu com outros gênios da arte e da literatura, seu talento e sua contribuição para a cultura só foram devidamente reconhecidos muito tempo depois de sua morte.

Fernando Pessoa foi um poeta absolutamente genial e singular dentro da literatura. Não bastasse ser quem foi, com todo seu talento, ele ainda criou os chamados “heterônimos”, que são verdadeiros desdobramentos de sua personalidade, “pessoas” com nome e sobrenome, biografias próprias e distintas, com características e estilos diferentes uns dos outros. O  “heterônimo” é muito diferente do “pseudônimo” . Este último se refere apenas ao uso de um outro nome, pelo escritor, ao assinar um texto quando ele não quer que seu verdadeiro nome seja associado à determinado trabalho. Já o heterônimo é um verdadeiro “desdobramento “do “eu” do autor, ele se multiplica, se desdobra em várias pessoas, podendo assim manifestar todas as facetas do seu trabalho. A criação de heterônimos é uma característica marcante da obra de Fernando Pessoa, característica que intriga os estudiosos e que dá ao poeta um ar de mistério. Sua personalidade é tão interessante quanto a sua grandiosa obra. Alguém já disse que “Fernando Pessoa não é um mas são vários homens”. Todos parte de uma mesma pessoa, mas tão bem construídos, que chegam a confundir os menos avisados. Seus heterônomos mais famosos são: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Alberto Caeiro é o poeta com pouca instrução, que escreve poesias simples, diretas e concretas. Sua poesia tem uma simplicidade apenas aparente, na verdade por trás dela há questões filosóficas muito complexas que discutem a visão de mundo e a dificuldade que o ser humano tem de compreender o verdadeiro significado de tudo que o cerca.

Ricardo Reis é o autor que tem sua obra influenciada pelos clássicos gregos e latinos, com a constante preocupação de aproveitar o momento presente porque a vida é algo que passa muito rápido caminhando rumo ao fim, à morte.

Álvaro de Campos é o “alter ego” de Fernando Pessoa, ou seja, seu “outro eu”, sua outra identidade, aquela pessoa que o poeta usa para mostrar sua face escondida, ele fala através do outro, diz o que normalmente sendo ele próprio não teria coragem de dizer, um outro  exemplo de alter ego de um escritor, acontece na obra de Monteiro Lobato onde a boneca Emília é o alter ego de Lobato.

O poeta teve uma vida breve, faleceu com 47 anos. Como normalmente acontece aos escritores e artistas que vivem e enxergam muito além do seu tempo. Sua trajetória na Terra foi rápida como um cometa, mas trouxe muita beleza para quem conhece sua obra. Sua vida foi breve mas seu trabalho de escritor e de poeta marcou e influenciou a cultura mundial.

Fernando Pessoa é um escritor e poeta de múltiplos talentos. Uma personalidade irrequieta e criativa que instiga o leitor já nas primeiras páginas de seus livros. Semelhante a uma Esfinge que precisa ser decifrada, ele permanece uma incógnita, seus heterônomos são tão fortes e verdadeiros que confundem a nossa compreensão sobre a figura de Fernando Pessoa. Há muito que se estudar sobre esse grande poeta, muito que se descobrir. Mas a parte melhor que cabe ao leitor é poder desfrutar de seus versos e aprender a se apaixonar pela sua poesia.

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

 

Fontes de pesquisa:

www.educacao.uol.com.br/biografias
www.brasilescola.uol.com.br
www.ebiografias.com
www.educacao.globo.com

FLORBELA ESPANCA - O MAIOR NOME             FEMININO DA POESIA PORTUGUESA

Em 8 de dezembro de 1894 nascia em Portugal, Florbela Espanca, a mulher que é considerada a maior poeta portuguesa de todos os tempos. Seu nome brilha dentro da literatura portuguesa  ao lado de nomes como o de Fernando Pessoa.

Ao nascer, por ser um bebê muito bonito, alguém disse: – É tão linda que parece uma flor! Então a mãe decidiu chamá-la de Flor Bela. Mais tarde Flor Bela mudou seu próprio nome para Florbela d’Alma da Conceição Espanca. Florbela era filha ilegítima, seu nascimento foi resultado de um costume comum em Portugal naquela época, quando um homem casado, cuja esposa não conseguia ter filhos, tinha o direito e o consentimento da esposa para ter filhos com outra mulher, desde que essa mulher  fosse de classe social inferior a da esposa, e após o nascimento esse filho passava  a viver com o pai e a mulher legítima dele. Assim foi feito com Florbela, que logo após nascer foi viver com o pai e a madrasta. A mãe dela também foi morar com eles e foi quem a amamentou e cuidou. Aos treze anos ela perdeu a mãe verdadeira, mas restou um irmão, Apele, fruto da mesma união da mãe com o pai de Florbela.

Aos nove anos de idade ela já escrevia sonetos, demonstrando precocemente sua genialidade poética.

Florbela Espanca é uma poeta extremamente sensível, ela derrama sua alma em seus versos. Os sentimentos profundos e melancólicos transbordam dessa alma ardente. Ao longo de sua breve vida ela escreveu muito, sempre versos carregados de beleza e de melancolia. Sua poesia e sua vida se misturam, se fundem, e é nos versos que ela coloca suas mágoas e dores. Florbela foi uma mulher muito a frente de seu tempo, com uma alma sensível demais e jamais compreendida pelos que a cercavam. Alguém que “sentia” a vida e amava com total entrega de alma. Tanto sentimento, próprio dela, resultou numa obra belíssima, mas ao mesmo tempo fez com que ela enquanto pessoa nunca fosse amada da mesma forma que amou.

Aos 19 anos Florbela se casou pela primeira vez. Esse período foi o mais criativo de sua carreira. Mas o casamento não foi bem sucedido, talvez fosse difícil para qualquer  homem compreender uma mulher tão intensa quanto Florbela. Durante o casamento ela sofreu dois abortos que debilitaram muito sua saúde e só fizeram aumentar ainda mais sua tristeza e melancolia. Ela se sentia cada vez mais sozinha mas continuava sempre escrevendo.

Florbela e o marido se mudaram para Lisboa e ela decidiu cursar a universidade. Foi a primeira mulher a entrar para a Faculdade de Direito em Portugal.  Aos vinte e três anos seu casamento terminou. Ela seguiu escrevendo seus versos e em 1919 foi publicada sua primeira obra: Livro de Mágoas. Em 1920 ela conheceu aquele que seria seu segundo marido e em 1921 se casou novamente. Ela estava muito doente, mas também muito apaixonada. Esse casamento também não trouxe felicidade para ela, Florbela teve novamente um aborto, além disso seu marido não se interessava e nem compreendia o que ela escrevia, certa vez até dormiu enquanto ela tentava ler seus poemas. Ele era uma pessoa truculenta e chegou a bater nela algumas vezes. Seu segundo casamento também chegou ao fim. Ela estava cada vez mais debilitada física e emocionalmente. No período em que esteve casada pela segunda vez ela conheceu o médico da família, pessoa aparentemente mais sensível que o marido, que se interessava pelo trabalho dela, eles por afinidade se tornaram  amigos e dessa amizade surgiu uma nova paixão na vida de Florbela. Após a separação ela foi viver com esse médico acreditando que desta vez tinha encontrado o grande amor de sua vida, alguém com quem compartilhar seus sonhos e ideais.  A família de Florbela não compreendeu esse novo relacionamento e tanto o pai quanto o irmão, por quem Florbela tinha verdadeira adoração, se afastaram e ficaram dois anos sem ter nenhum contato. A depressão da poetisa aumentou nesse período, sua saúde sempre frágil ficou ainda mais abalada. Sua tristeza era fruto de sua história, aquela menina ilegítima que perdeu a mãe muito cedo, que foi criada pela mulher de seu pai, um pai que nunca a reconheceu legalmente como filha, apesar da admiração e do amor que ela tinha por ele, e que se afastou, que só a reconheceu 10 anos após a morte dela, além disso  seu  único irmão, seu amigo e confidente também se afastou. Sem contar as suas várias tentativas de ser mãe que nunca deram certo. As tragédias em sua vida se sucediam, a sua nova união começou a fracassar também e algum tempo depois ela  perdeu o irmão em um acidente, o avião que ele pilotava caiu no Tejo e o corpo nunca foi encontrado, um acidente inexplicável, que mais pareceu um suicídio e que marcou Florbela para sempre.  Tudo isso foi demais para uma mulher tão sensível e sua debilidade emocional e física ficaram ainda piores. Florbela nunca parou de escrever e seus versos refletem suas tragédias pessoais e também se percebe neles que há a esperança de felicidade, em cada nova tentativa de encontrar o amor correspondido. Tentativa que sempre fracassou, mas ela seguiu buscando esse amor pleno, idealizado, correspondido e feliz que nunca chegou. Em seus versos está refletida a sua alma e a sua vida com todos os acontecimentos tristes que sua imensa sensibilidade sentiu profundamente.

Durante um período de sua vida Florbela Espanca além dos poemas escreveu também contos que tentou publicar, sem sucesso, no livro intitulado de Dominó Preto, esse livro só foi publicado muitos anos mais tarde em 1982, ela fez também traduções de romances franceses, foram oito ao todo e nelas assinou com o pseudônimo de Felisbella Espance Lage, a poeta não queria ficar conhecida como tradutora e só fez esse trabalho por necessitar de dinheiro. Sua saúde piorava a cada dia, ela estava cada vez mais deprimida e neurastênica e tentou o suicídio por duas vezes sem sucesso. Até que no dia do seu aniversário no ano de 1930 ela tomou uma overdose de tranquilizantes e foi achada morta em seu quarto. Com apenas 36 anos morria a maior expressão feminina da poesia portuguesa. A poeta que soube expressar como ninguém todos os segredos, os amores, a dor, os sentimentos e mistérios da alma da mulher. Sua poesia é da mais alta qualidade, extremamente expressiva, dramática e carregada de emotividade. Florbela Espanca foi uma mulher precursora em todos os sentidos, apesar de ter tido imensa sensibilidade e constantemente ter se visto apaixonada por um homem, sempre buscou mais nos relacionamentos e na vida do que um simples casamento, casou-se por três vezes, e durante todo o tempo de casada se manteve escrevendo mesmo sem o apoio dos maridos, numa época em que as mulheres pouco estudavam e não trabalhavam fora, vivendo dependentes e submissas  dos maridos, Florbela foi uma das poucas moças a ingressar no curso secundário e a primeira mulher a cursar a Faculdade de Direito em Portugal e com seu talento que se manifestou desde a infância ela nos brindou com sua magnífica obra poética.

Sempre haverá muito a se dizer sobre Florbela Espanca e seus versos, muito a se descobrir e se analisar na personalidade e na obra  tão genial, criativa e conturbada dessa incrível poeta ,mas quem melhor soube definir Florbela Espanca foi ela mesma, em suas palavras: “O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais, há em mim uma sede de infinito; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudades…sei lá de quê!”

 

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Colunista

 

Fonte de Pesquisa:

www.ebiografia.com
www.infoescola.com
http://www.institutocamoes.pt/cvc/figuras/florbelaespanca
www.vidaslusofonas.pt/florbela espanca
http://www.revista.agulha.nom.br/flor.ht
camoes.pt/figuras/florbelaespanca por Cecília Barreira
www.jornaldapoesia.jor.br
www.releituras.com/fespanca (Projeto Releituras- Arnaldo Nogueira Jr.11/10/2016
www.planocritico.com/criticaq-florbela (Luiz Santiago 02/05/2015 @planocritico)
revistacult.uol.com.br “Florbela Espanca,um amar perdidamente- Gustavo Ranieri)

MANUEL BANDEIRA UM GRANDE POETA BRASILEIRO

Em 19 de abril de 1886 nascia em Recife, Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho ou simplesmente Manuel Bandeira. O grande poeta brasileiro que foi também escritor, tradutor, professor de literatura, crítico literário e de arte, um dos maiores nomes da nossa literatura. Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 22, seu poema “Os Sapos” foi lido na abertura dos trabalhos. Manuel Bandeira com seus versos livres e com temas que eram comuns também ao movimento modernista, tornou-se um dos símbolos do Modernismo, apesar dele próprio não gostar de ser rotulado como integrante de nenhum movimento, e de desejar apenas escrever seus versos. Era através da poesia e também da prosa que ele retratava e registrava o mundo que via a sua volta. Era um observador nato, sensível, seu trabalho foi a maneira que ele encontrou de registrar suas impressões, opiniões  e sensações da realidade que o cercava.

Com 10 anos de idade mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e neste mesmo ano teve sua primeira poesia publicada no Correio da Manhã. Seu talento para a poesia despontava assim muito cedo, ainda criança. Mudou-se depois para São Paulo em 1903. Influenciado pela família, pretendia se tornar um arquiteto, chegou a ter aulas de desenho para facilitar a entrada na universidade de arquitetura, mas um fato mudou sua história e o aproximou para sempre das letras e da poesia. Aos 18 anos Manuel Bandeira descobriu que estava com tuberculose, uma doença sem cura naquela época, uma verdadeira sentença de morte, que ele recebeu em plena juventude, um diagnóstico médico que mudou toda a trajetória de sua vida e o levou a se tornar um escritor e poeta, para desse modo, registrar tudo ao máximo, tudo que ele não poderia viver plenamente e pensava ter de deixar em breve. A solução por ele encontrada para viver ao máximo cada segundo da curta existência que acreditava estar destinado a viver, era registrar tudo que seus olhos viam, ou que seus sentidos percebiam, então passou a escrever sobre tudo, família, mulheres, o amor, a morte, cenas do cotidiano.  Manuel Bandeira, contrariando as palavras dos médicos que foram um veredito de “morte”, com prognóstico de apenas alguns meses ou no máximo poucos anos de vida, viveu mais de 80 anos. Nunca se curou da tuberculose, apesar de não ter sido ela que o matou e teve que aprender a conviver com a doença e com a ideia da morte que o acompanhou por toda a vida.

Ao receber o diagnóstico da doença abandonou a ideia de se tornar arquiteto. Para tentar se curar, passou por vários hospitais em diversas cidades onde o clima poderia favorecer os seus pulmões, mas sem sucesso, acabou indo para a Suíça onde ficou dois anos internado em um Sanatório onde eram tratados os tuberculosos. Foram anos de isolamento, longe da família e dos amigos, numa terra estranha. Eram anos difíceis, o mundo enfrentava a 1ª Guerra Mundial. Bandeira estava solitário, lutando para se curar e para retomar a sua vida no Brasil e a sua juventude que fora posta de lado pelas circunstâncias. Por tudo isso ele começou a escrever e também a ler muito. O cenário mundial em guerra, sua situação, a presença do medo da morte iminente, e a doença recém-descoberta acabaram influenciando toda a sua obra, não apenas os primeiros escritos.

Após os dois anos de internamento ele voltou para o Brasil para retomar sua vida, não estava curado e teria que aprender a conviver com a doença. Mas a vida ainda não tinha mostrado ao jovem poeta toda a sua força. Não bastasse seu problema de saúde, bastante sério, num intervalo de apenas seis anos ele perdeu toda a família, primeiro a mãe, depois sua única irmã e por fim o pai que sempre o apoiou e que chegou a pagar a publicação de seu primeiro livro “A Cinza das Horas”. Assim o poeta ficou sozinho e com a vida, de sonhos e de planos, naturais de um jovem, interrompida.

Apesar de todos esses acontecimentos Manuel Bandeira, ao contrário do que poderia se esperar, não era um homem triste, vivia sorridente e segundo depoimento de pessoas que o conheceram era um homem gentil e bem humorado. Ao se ver sozinho, sem família, ele se aproximou dos escritores que conhecia e que passaram a ser seus amigos, quase que uma segunda família. Entre eles estavam grandes nomes da literatura como Carlos Drummond de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade e o historiador Sérgio Buarque de Hollanda.

Manuel Bandeira apesar de seu reconhecido talento nunca ganhou dinheiro com seus livros, que receberam prêmios importantes, mas que foram publicados com dinheiro do próprio autor. O poeta seguiu escrevendo sobre tudo, registrando tudo, era observador, atento aos detalhes. Mesmo sendo mais conhecido como poeta foi também um grande cronista que escrevia sobre o mundo e seu tempo com um olhar curioso e criativo. Como não vivia de sua literatura, se mantinha como professor, fazendo traduções, crítica literária e escrevendo biografias.

Na verdade escrever, para Manuel Bandeira, era a forma mais natural de enfrentar a doença e o fato de que por causa dela, não fez o que queria ter feito, nem viveu como gostaria. Não foi arquiteto com pretendeu um dia, nunca se casou.  Já que não era possível vivenciar seus antigos sonhos ele escrevia ou reescrevia a vida da maneira que gostaria que ela fosse, aprendendo a valorizar as pequenas coisas do cotidiano e a viver de maneira mais leve, por isso estava sempre sorrindo. Segundo os amigos, Bandeira se achava um homem feio, mas adorava tirar retratos. Valorizou e aprendeu a aproveitar as coisas mais simples que normalmente não damos valor na correria diária. Em um  de seus poemas: “Itinerário de Pasárgada” ele criou um reino imaginário, só seu onde ele podia tudo, onde não havia limites, onde tudo era possível. No poema ele diz: “… Vou-me embora pra Pasárgada//… Lá sou amigo do rei//… Lá tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei/…E como farei ginástica/ Andarei de bicicleta/ Montarei em burro brabo/ Subirei em pau-de-sebo/ Tomarei banhos de mar/…”

Com o passar do tempo veio o reconhecimento e em 1940 o poeta foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras.

Manuel Bandeira faleceu em 13 de outubro de 1968 . Esse grande poeta deixou uma vasta obra, que se mantém muito importante dentro da literatura até os dias de hoje. Seu legado para o leitor que já o conhece ou para aquele estreante na leitura de seus livros, são os textos em prosa ou em versos, extremamente bem escritos e sem rebuscamentos, versos aparentemente simples, no caso da poesia, mas frutos de um olhar profundo e sensível sobre as coisas, um olhar de quem viveu situações difíceis e que aprendeu a tirar delas lições preciosas, talvez a maior de todas seja que a vida sempre vale a pena, mesmo que não possamos fazer “grandes” conquistas, o importante é aprender a ver o real valor de cada momento e que todo instante é precioso. Não o instante passado, nem o instante futuro, mas o momento “presente” é o que realmente existe de fato, esse presente é que deve ser vivido, aproveitado e saboreado ao máximo.

Artigo escrito por Ivana Lopes – Tradutora, Colunista e Escritora

 

Fontes de Pesquisa:

WWW1.FOLHA.UOL.COM.BR/ folha online – artigo: Tuberculose e observação marcaram a vida de Manuel Bandeira – texto de Teresa Chaves de 29/06/2009

www.estudopratico.com.br

www.infoescola.com

www.educacao.uol.com.br

www.releituras.com.br/mbandeira

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MONTEIRO LOBATO –O GENIAL, POLÊMICO E MAIS BRILHANTE ESCRITOR DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA- by Ivana Lopes
 

           José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté em 18 de abril de 1882, filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato e neto do Visconde de Tremembé. Monteiro Lobato foi alfabetizado pela mãe e foi na vasta biblioteca do avô que ele descobriu o grande prazer da leitura, ainda na infância leu todos os livros infantis do grande acervo do Visconde.
         Quando Lobato estava com 16 anos seu pai faleceu. Pouco tempo depois o rapaz teve sua primeira atitude polêmica, ao herdar uma bengala que tinha sido do pai, onde estavam gravadas as iniciais J.B.M.L, resolveu mudar de nome, para assim ter as mesmas iniciais, passando a se chamar José Bento Monteiro Lobato.
Formou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, apesar de sua vocação para as letras e as artes, além de escrever fazia pinturas, desenhos e caricaturas.      

      Durante a própria formatura fez um inflamado discurso que chocou seus professores, padres e bispos que estavam presentes e que se retiraram da cerimônia.
          O escritor Monteiro Lobato era extremamente nacionalista, um grande ativista político que combatia duramente o atraso econômico e cultural em que o Brasil estava mergulhado. No livro “Urupês” de 1918, ele criou o personagem “Jeca Tatu”, o homem iletrado, que vive na roça, cercado de animais, vivendo descalço e na pobreza, sem direito a nenhuma educação, vítima do descaso do governo, tanto o livro quanto o personagem são uma dura crítica ao atraso do país.     Escreveu mais tarde dois livros “Ferro” em 1931 e “O Escândalo do Petróleo” em 1936 onde combatia a política do governo de Getúlio Vargas, contrária a exploração de petróleo em solo brasileiro, é do escritor a célebre frase “O petróleo é nosso”, que se tornou slogan de uma intensa campanha liderada por Lobato para nacionalização de todo o petróleo que fosse encontrado em terras brasileiras.

           Perseguido pelo governo, por suas ideias que contrariavam os interesses dos governantes e das multinacionais, que chegavam ao país, Monteiro Lobato foi preso em 1941 ficando 6 meses na prisão, mesmo após ser solto continuou sendo alvo de perseguição da ditadura de Vargas. Além desse lado ativista de Monteiro Lobato e de sua postura muitas vezes polêmica ao longo da vida, como quando criticou a exposição expressionista da pintora Anita Malfatti, chamando o trabalho dela de “resultado de uma deformação mental”, havia no escritor Monteiro Lobato um enorme talento inovador para criar histórias infantis. Seu talento e seu pioneirismo abriram novos caminhos dentro da literatura infantil. A partir de seu livro “Reinações de Narizinho”, o escritor traz não apenas “novas histórias infantis”, mas ele cria todo um universo repleto de fantasia e de diversão, recheado por figuras folclóricas e da cultura popular brasileira, onde além de entreter o pequeno leitor, fazê-lo viajar pelo mundo do faz de conta na companhia da menina Narizinho, do garoto Pedrinho, da incrível boneca Emília que fala e age como gente, do sabugo de milho, um nobre e culto Visconde, e de todas as outras personagens do Sítio do Picapau Amarelo, o escritor simplesmente revoluciona a literatura infantil no Brasil, não sendo exagero dizer que a infância depois de seus livros nunca mais foi a mesma. Sua criatividade e talento são indiscutíveis e colocam a criança no centro das atenções pela primeira vez, além de que, sua obra consegue também ensinar brincando, quando ele “conta” ou reescreve para as crianças clássicos como “Dom Quixote” de Miguel de Cervantes em “Dom Quixote das crianças”, “As Aventuras de Hans Staden”, “Os Doze Trabalhos de Hércules”, ”O Minotauro”, “História das Invenções”, “Histórias do Mundo para crianças”, ensina português em “Emília no País da Gramática”, ou matemática em “Aritmética da Emília”. Além de grande escritor, Monteiro Lobato foi também dono de Editora e um dos pioneiros do mercado editorial no Brasil.
                      O escritor faleceu em 4 de julho de 1948. Em sua homenagem “O Dia Nacional do Livro Infantil” é comemorado no dia 18 de abril, data de nascimento do escritor.
Uma última grande polêmica a respeito de Monteiro Lobato surgiu muito tempo após sua morte. Há grupos de estudiosos que o consideram um escritor racista pelos termos que usa ao se referir a uma de suas personagens “Tia Anastácia”, a mulher negra e cozinheira do Sítio do Picapau Amarelo. Enquanto outros grupos saem em defesa do escritor, justificando que seus livros retratam uma época, a linguagem e o modo de pensar dessa época. Citam exemplos com vários trechos de seus livros onde a sabedoria popular é enaltecida através da figura de Tia Anastácia como contadora de histórias, justificando também que o escritor dedicou um livro todo ao personagem em “Histórias de Tia Anastácia” o que comprovaria a importância dada pelo escritor a ela. Apesar dessa polêmica que envolveu Monteiro Lobato, não cabe aqui julgá-lo, mesmo porque isso só poderia ser feito por especialistas no assunto, que de fato não sou.
                    O que é importante ressaltar é que apesar de toda e qualquer polêmica que já envolveu a pessoa de Lobato, nada tira dele o mérito de grande e talentoso escritor infantil, o gênio e pioneiro que transformou a infância de muitas gerações, dando às crianças a possibilidade de sonhar, fantasiar, aprender e viajar por um mundo encantado através de seus livros. Monteiro Lobato abriu para muitas gerações a porta do amor à leitura, muitas das crianças que leram seus livros, se tornaram mais tarde adultos leitores, amantes dos bons livros.

 


Fontes de pesquisa:
http://guiadoestudante.abril.com.br/
www.infoescola.com/literatura/o negro nas obras de monteiro lobato
www.ebiografia.com
https://pensador.uol.com.br 

JOSÉ LINS DO REGO -

O ESCRITOR E SUA OBRA

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José Lins do Rego Cavalcanti era filho de fazendeiros de uma tradicional família de “Senhores de Engenho” produtores de açúcar. Ele nasceu na Paraíba, no Engenho Corredor, próximo à cidade de Pilar em 3 de junho de 1901. Ainda muito criança perdeu a mãe e passou a ser criado pelo avô.

Com oito anos foi colocado em um colégio interno onde ficou por três anos. Em 1912 foi estudar na cidade de João Pessoa onde publicou nesse mesmo ano seu primeiro artigo no jornal local. Alguns anos depois se mudou para Recife onde continuou os estudos até concluir o que hoje é chamado de ensino médio, depois cursou a Faculdade de Direito do Recife. Foi em Recife que conheceu grandes intelectuais da época como Gilberto Freyre e José Américo de Almeida.

Em 1924 o escritor se casou e no ano seguinte foi nomeado promotor, mas em 1926 mudou-se com a mulher para Maceió e se tornou fiscal de bancos, além de ter esse trabalho ele passou a colaborar com o Jornal de Alagoas. Em Maceió se tornou amigo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio Buarque de Holanda e Jorge de Lima.

Seu primeiro romance publicado foi “Menino de Engenho” em 1932 que foi muito elogiado pela crítica e recebeu o Prêmio da Fundação Graça Aranha. Em 1935 o escritor se mudou para o Rio de Janeiro onde continuou escrevendo seus romances e trabalhando como jornalista, publicando crônicas diariamente em jornais cariocas.

Em seus romances José Lins do Rego fala da decadência dos senhores de engenho, fazendo uma crítica ao sistema econômico ultrapassado que se baseava na exploração desumana da mão de obra. Sua narrativa é cheia de autenticidade e realismo, descrevendo a vida, os costumes, as características, a maneira de falar do povo nordestino que viveu durante a época do declínio dos grandes engenhos. Na verdade seus livros são autobiográficos. O escritor nasceu num engenho de açúcar, passou toda a sua infância lá. A realidade que retratou em seus livros era muito conhecida e familiar a ele. Além de falar da vida nos engenhos e da sua decadência econômica José Lins do Rego também fala em sua obra sobre os cangaceiros, sobre o misticismo do povo nordestino e sobre a seca. Ele foi um grande escritor regionalista do modernismo.

O próprio José Lins do Rego dividiu a sua obra em três fases: “O Ciclo da Cana-de-Açúcar”, onde se enquadram os livros: “Menino de Engenho”, “Doidinho”, “Fogo Morto” e “Usina” depois o ”Ciclo do Cangaço, Misticismo e Seca” com “Pedra Bonita” e “Cangaceiros” e “Obras Independentes” que podem ter ligação com os ciclos anteriores como é o caso de “Moleque Ricardo” e “Riacho Doce” ou não como os livros “Água-Mãe” e “Eurídice”.

Seu primeiro livro publicado “Menino de Engenho” teve sua publicação paga com dinheiro do próprio escritor e como já foi dito, se tornou um grande sucesso de crítica e de venda. A partir do segundo livro publicado “Doidinho”, o editor José Olympio propôs ao escritor fazer uma edição de dez mil exemplares de seu próximo romance, isso fez com que José Lins do Rego se tornasse um escritor muito conhecido e prestigiado pelos leitores. A partir de então ele passou a publicar um livro por ano. Sua obra além de importante dentro da literatura brasileira tornou-se também muito vasta.

O livro “Fogo Morto” escrito em 1943 é a obra prima de José Lins do Rego. Nele o escritor retrata com riqueza de detalhes o declínio dos engenhos de cana e com ele a decadência da economia nordestina da época. Com singular sensibilidade ele descreve a ruína dos senhores de engenho, inclusive de seu próprio avô e das pessoas que dependiam daquele trabalho para sobreviver. Por estar tão inserido naquela realidade sua narrativa é surpreendente e nos leva para dentro de sua história, de sua época e de seu contexto, mostrando bem porque ele se tornou um escritor tão reconhecido pelo público e pela crítica , deixando muito claro seu grande valor dentro da literatura brasileira.

Em 15 de setembro de 1955 José Lins do Rego foi eleito para ocupar a cadeira número 25 da Academia Brasileira de Letras.

Várias de suas obras foram adaptadas para o cinema, teatro e tv e foram também traduzidas em outros idiomas.

O escritor José Lins do Rego faleceu no Rio de Janeiro em 12 de setembro de 1957.

Em sua obra, José Lins do Rego, soube como poucos fazer o retrato de uma época da história do Brasil. Ele registrou em seus livros não só fatos, mas principalmente os traços tão peculiares e marcantes do povo nordestino, sua força interior, suas crenças e costumes que fazem com que enfrentem e superem todos os obstáculos inclusive os naturais como a seca, demonstrando que o nordestino é mesmo “um forte”.  Por tudo isso a obra de José Lins do Rego merece ser conhecida, lida e relida por todos nós.

 

 Texto escrito por Ivana Lopes- Tradutora, Escritora

Fontes de Pesquisa:

www.academia.org.br/academicos/jose-lins-do-rego/biografia

http://educacao.uol.com.br/biografias/jose-lins-do-rego

www.ebiografia.com

www.brasilescola.uol.com.br

www.releituras.com/jlinsrego

www.infoescola.com/biografia-de-jose-lins-do-rego (por Ana Paula de Araújo)

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Também publico meus artigos sobre os grandes mestres da literatura em:

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no site www.arcaliteraria.com.br  na minha coluna “Ivana Lopes”

e no site http://damasdecopas.net.br na minha coluna "Universo Literário"

                          GRACILIANO RAMOS E SUA OBRA –

A CRÍTICA SOCIAL E O RETRATO FIEL DA REALIDADE

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Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892 em Quebrangulo, cidade localizada no sertão de Alagoas. Foi o primeiro filho de uma família numerosa, seu pai Sebastião Ramos de Oliveira e a mãe Maria Amélia Ferro Ramos tiveram 16 filhos.

Passou sua infância no sertão nordestino castigado pela seca, vivendo com a família, onde ele e os irmãos recebiam dos pais uma educação muito rígida, seu pai inclusive costumava surrar os filhos, essa violência era tão frequente que marcou a vida e a obra do futuro escritor, que acreditava que a violência era muitas vezes a base do relacionamento humano. Graciliano cresceu num ambiente seco, árido, rude não apenas pelas características da natureza que o cercava mas também essas eram características que ele encontrava dentro da própria casa no convívio com a família, isso fez dele um homem introspectivo, fechado e muitas vezes pessimista. Essas características acabaram marcando sua escrita, ele foi um escritor que usou com maestria do realismo em sua narrativa, sem floreios nas palavras, seu texto é preciso ao descrever a realidade do sertanejo castigado pela seca, como por exemplo em sua obra prima “Vidas Secas”. Esse universo onde tudo era “seco” até a vida das pessoas, era um ambiente muito familiar ao escritor.

Em 1894 ele e a família se mudaram para Pernambuco indo morar na cidade de Buíque. Voltaram para Alagoas em 1904 passando a morar em Viçosa. Com apenas 12 anos ele criou na cidade um jornal para crianças chamado “Dilúculo”. Em 1905 foi estudar em Maceió e no ano seguinte foram publicados sonetos de Graciliano na revista “O Malho”. Em 1909 passou a ser um colaborador do “Jornal de Alagoas” onde publicou sonetos, o primeiro foi “Céptico”, todas as publicações eram feitas usando um pseudônimo.

Em 1910 a família se mudou novamente, indo morar em Palmeira dos Índios em Alagoas. Nessa cidade o pai do escritor abriu um pequeno comércio onde Graciliano passou a trabalhar. Em 1914 Graciliano Ramos se mudou para o Rio de Janeiro onde se tornou revisor dos jornais “Correio da Manhã” e “A Tarde”, mas depois acabou voltando para Palmeira dos Índios onde retomou o trabalho no comércio da família além de trabalhar como jornalista na cidade. Em 1915 Graciliano Ramos se casou com Maria Augusta Ramos, tiveram quatro filhos. Em 1920 sua esposa faleceu deixando Graciliano com os filhos ainda pequenos.

Em 1927 ele se tornou prefeito de Palmeira dos Índios, mas dois anos depois renunciou ao cargo e se mudou para Maceió onde foi nomeado Diretor da Imprensa Oficial, neste mesmo ano ele se casou novamente com Heloisa Medeiros. Demitiu-se do cargo e passou a trabalhar colaborando com diversos jornais locais sempre usando pseudônimo.

Em 1933 foi lançado seu primeiro livro “Caetés” que Graciliano tinha começado a escrever em 1925.

Seu livro “São Bernardo”, um dos maiores clássicos da literatura brasileira, foi publicado em 1934. Nessa época Graciliano Ramos se tornou amigo de Jorge Amado, José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.

Em 1936 o escritor Graciliano Ramos foi preso, durante o governo de Getúlio Vargas, acusado de ter participado da Intentona Comunista que aconteceu um ano antes. A acusação nunca foi comprovada, mesmo porque Graciliano só se filiou ao partido comunista muitos anos depois, em 1945. Apesar disso o escritor foi preso e levado ao Rio de Janeiro onde passou por vários presídios, não houve julgamento, nem foram apresentadas provas contra ele, entretanto sua prisão durou dez meses e ele passou a maior parte desse tempo no presídio de Ilha Grande onde sofreu humilhações e vivenciou muito sofrimento. O fruto desse período em que esteve preso foi a obra “Memórias do Cárcere” relatando tudo que viveu na prisão, além de falar sobre sua experiência pessoal, ele fez uma crítica nesse livro da realidade brasileira da época, denunciando o autoritarismo do governo Vargas e o atraso cultural em que o Brasil estava mergulhado. Esta obra foi publicada em 1953, após a morte de Graciliano que não chegou a concluir o trabalho, o escritor faleceu antes de escrever o último capítulo.

A obra mais importante de Graciliano Ramos, considerada sua obra prima, o livro “Vidas Secas” foi publicada em 1938 e recebeu prêmios nacionais e internacionais importantes. Os livros de Graciliano foram traduzidos em vários idiomas. “Vidas Secas”, “São Bernardo” e “Memórias do Cárcere” foram, além disso, adaptados para o cinema. O filme “Vidas Secas” recebeu dois prêmios internacionais.

Em 20 de março de 1953 o escritor Graciliano Ramos faleceu vítima de câncer nos pulmões.

O escritor é considerado o melhor ficcionista e prosador do Modernismo. Em sua obra, além de retratar fielmente e com grande realismo os problemas sociais do nordeste, Graciliano faz uma crítica muito contundente da sociedade e das relações humanas.

Seus livros retratam fielmente o sofrimento, o abandono e as injustiças sociais vividas pelo sertanejo pobre, simples e rude do nordeste brasileiro. Infelizmente muitas dessas injustiças e desses sofrimentos ainda acontecem pelos sertões de nosso país apesar de ter se passado bastante tempo desde as publicações das obras de Graciliano Ramos, sua obra continua viva, vibrante e atual num país como o nosso onde uma calamidade como a seca em regiões do norte e nordeste se tornou um “mal” crônico e sem saída, pelo desinteresse das autoridades em buscar uma solução definitiva.

Graciliano Ramos é um escritor que vale a pena ser lido e relido, suas obras são um banho de realidade, que apesar de dura, deve ser motivo de reflexão sobre a nossa sociedade e sobre o que pode ser feito para se construir uma nação mais justa. O papel da leitura muitas vezes é o de transformar, de enriquecer e de ampliar a nossa visão de mundo.

 

Texto escrito por Ivana Lopes – Tradutora e Escritora

 

Fontes de Pesquisa:

www.releituras.com/graciramos_bio.asp

Caderno “Mais” da Folha de São Paulo edição de 09/03/2003

www.ebiografia.com/graciliano_ramos

http://educacao.uol.com.br/graciliano-ramos.htm

ARIANO SUASSUNA

O talentoso escritor , dramaturgo e poeta nordestino, um grande defensor da cultura popular brasileira

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Ariano Suassuna foi dramaturgo, escritor, poeta, professor e advogado. Nasceu na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, a capital da Paraíba, filho de João Suassuna, ex-governador do estado e de Rita de Cássia Villar.

Quando Ariano tinha apenas três anos de idade seu pai foi assassinado por motivos políticos. Então ele, a mãe e os irmãos se mudaram para Taperoá, sertão da Paraíba, no sítio Acauã, onde o escritor passou sua infância. Foi ali que pela primeira vez, Ariano Suassuna teve contato com a cultura popular nordestina ao assistir o “teatro de mamulengos”, um teatro de bonecos feito por artistas do povo, de improviso, sem roteiro onde o povo participa ativamente, interagindo com os artistas, sendo que os diálogos são criados na hora do espetáculo. Além do contato com os mamulengos, Suassuna presenciou ali os desafios de viola. Essas manifestações do folclore nordestino com certeza encantaram o menino e influenciaram  profundamente toda a obra do escritor, que iria ser escrita mais tarde.

Na adolescência Ariano Suassuna se mudou novamente com a família indo morar no Recife, lá estudou no Ginásio Pernambucano e depois no Colégio Oswaldo Cruz. Em 1946 ele entrou para a Faculdade de Direito de Recife  e foi na faculdade que Ariano conheceu  e conviveu com escritores, atores, poetas, artistas e pessoas interessadas em literatura. Juntamente com um amigo ele fundou o Teatro de Estudantes de Pernambuco. Ariano se formou em direito em 1950, depois cursou Filosofia concluindo  essa graduação em 1964. Seu primeiro trabalho publicado foi “Noturno”  em 1945 no Jornal do Comércio do Recife. Sua primeira peça de teatro foi “Uma mulher vestida de sol” premiada  em 1948.

Ariano se casou no final dos anos 50. Ele e a mulher Zélia tiveram seis filhos. Em 1970 Suassuna criou o ”Movimento Armorial” para divulgar e valorizar a cultura nordestina, com sua literatura de cordel, sua música, seu teatro e dança. Além da valorização da cultura popular, esse movimento, tinha por objetivo misturar o popular ao erudito, levando o erudito ao povo sem desvalorizar a sua cultura, ele sabia do grande valor que possui a arte popular, que vem espontaneamente do povo, a intenção era de enriquecer a cultura através dessa mistura. Esse movimento recebeu o apoio de escritores e intelectuais da época.

O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna foi um dos grandes responsáveis pela modernização do teatro brasileiro. Uma das características marcantes de suas obras teatrais é o improviso com textos populares repletos da cultura nordestina.

Um de seus trabalhos mais famosos é “Auto da Compadecida”, escrito em 1955 e que fez muito sucesso ao ser  adaptado para o cinema e para a TV  e o tornou conhecido em todo o país. A versão para a TV teve no elenco Fernanda Montenegro, Selton Melo, Mateus Nachtergaele e Marco Nanini entre outros. O estílo do escritor Ariano Suassuna é calcado na cultura popular, seus textos são cheios de humor, denunciam a corrupção, a hipocrisia, o preconceito, o falso moralismo fazendo uma crítica da sociedade brasileira.

Em 1948 ele lançou “A Pedra do Reino”. As obras “O Santo e a Porca” e “Casamento Suspeitoso” foram publicadas em 1957. Esses são só alguns exemplos de seus trabalhos, sua obra é bem vasta.

Em agosto de 1989 o escritor, dramaturgo e poeta passou a ocupar a cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1993 foi eleito para a Academia Pernambucana de Letras e no ano 2000 entrou para a Academia Paraibana de Letras.

Em 23 de julho de 2014 o escritor faleceu no Recife vítima de um AVC.

Ariano Suassuna foi antes de tudo um nordestino. Um escritor, dramaturgo e poeta muito talentoso que amava o seu país, um patriota, que se orgulhava de ser nordestino e brasileiro e que defendia com unhas e dentes a nossa cultura, a nossa língua e a nossa gente. Não se cansava de denunciar em suas entrevistas e palestras o malefício que representava e representa a imitação caricata de outras culturas pelo nosso povo. Em todo o seu trabalho retratou a cultura popular genuinamente brasileira defendendo que uma nação precisa conservar a sua identidade mesmo que naturalmente receba influências de culturas externas, a cultura de um povo, produzida por ele é seu bem mais precioso.

Por ser um grande escritor que soube “dialogar” tão bem com o povo em seu texto, e retratá-lo com tanta fidelidade, respeitando e valorizando tanto a cultura popular, o nordeste e o Brasil, Ariano Suassuna merece ser conhecido, lido e assistido nos palcos de teatro por todos nós brasileiros, que precisamos aprender a valorizar mais o que é nosso, antes de achar que só o que vem de fora é bom, precisamos conhecer melhor nossos talentos, nossos escritores, nossos artistas, e nossa própria cultura, prestigiar, conhecer e divulgar nossos valores, como fez um dia o próprio Suassuna, afinal uma grande nação é formada por pessoas que construíram uma identidade como povo, que partilham da mesma cultura e dos mesmos ideais e que se orgulham disso.

Texto escrito por  Ivana Lopes-  Escritora e Tradutora    

  Fontes de Pesquisa:

 www.pensador.uol.com.br

  www.infoescola.com/escritores/ariano-suassuna (Ana Lucia Santana)

  www.ebiografia.com/ariano_suassuna

  www.educacao.globo.com/literatura

  Foto (www.pensador. uol.com.br)

GUIMARÃES ROSA-

O EXTRAORDINÁRIO E GENIAL ESCRITOR BRASILEIRO- by Ivana Lopes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Guimarães Rosa não foi apenas um grande escritor, o que por si só já seria muito, ele foi e continua sendo um escritor único, singular. Sua escrita, sua linguagem, sua obra, sua maneira de contar uma história não encontram paralelo em nenhum lugar do mundo. João Guimarães Rosa é essencialmente brasileiro, uma joia preciosa da literatura nacional.
O escritor nasceu em Cordisburgo, uma pequena cidade em Minas Gerais em 27 de junho de 1908. Desde muito cedo já demonstrava ter uma capacidade intelectual muito acima da média, antes dos 7 anos começou a estudar francês sozinho. Na infância aprendeu francês e depois o holandês com um padre da sua cidade.
Esse fascínio por aprender novas línguas o acompanhou durante toda a sua vida. Guimarães Rosa se tornou um poliglota, falava fluentemente mais de dez idiomas e lia, além desses, em uma outra dezena de línguas.
Quando chegou ao que hoje é chamado de ensino médio, Guimarães se mudou com a família para Belo Horizonte e passou a estudar num colégio de padres alemães e lá em pouco tempo aprendeu alemão.
Aos 16 anos entrou na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Além de cursar a faculdade ele já escrevia seus primeiros contos. Nessa época participou de um concurso promovido pela revista O Cruzeiro e foi o vencedor, seus contos foram premiados e publicados em 1929 e em 1930, neste mesmo ano ele se formou, tornando-se médico, anos mais tarde abandonaria essa carreira admitindo que não tinha vocação para a medicina, que sua vocação estava mesmo no terreno das ideias e das letras. Chegou a exercer a profissão, durante dois anos trabalhou numa pequena cidade do interior mineiro, onde travou conhecimento e amizade com os curandeiros e benzedeiras da região, sabedor da importância dessas pessoas para as comunidades mais pobres, conversava muito com elas, ouvia suas histórias, tinha contato com o conhecimento popular a respeito de ervas e chás medicinais. Provavelmente muitas dessas histórias, conversas e conhecimentos populares serviram de material para as histórias e romances que ele escreveria mais tarde. Depois de trabalhar nessa cidadezinha ele prestou concurso para o cargo de Oficial Médico na Infantaria do Exército. Foi aprovado, mas além das cerimônias cívicas do quartel não havia muito o que fazer e Guimarães Rosa passou a dedicar-se cada vez mais ao estudo de idiomas. Foi também no quartel que ele fez uma intensa pesquisa nos arquivos sobre os jagunços que existiam na região do São Francisco e dessa pesquisa conseguiu um farto material que o inspiraria na criação de seus incríveis personagens.
O escritor Guimarães Rosa foi um homem muito culto, um verdadeiro erudito, mas ao mesmo tempo uma pessoa muito sensível, cheio de simplicidade ao tratar com as pessoas do povo, um “curioso” como ele mesmo se denominava. Essas características impressionavam quem o conhecia. Certa vez, um amigo admirado com a sua cultura, sugeriu que ele se inscrevesse no concurso para trabalhar no Itamarati. Guimarães passou em segundo lugar. Nesse período ele participou de dois concursos literários, em 1936, com uma coletânea de poemas intitulada “Magma” ele recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras e no ano seguinte participou com a obra “Contos”, que anos mais tarde se tornaria o livro “Sagarana”, muito premiado e considerado um dos livros mais importantes da literatura contemporânea brasileira. Neste livro é usada uma linguagem totalmente inovadora nunca antes vista na literatura nacional.
Em 1938 o escritor foi nomeado Cônsul em Hamburgo e passou a viver na Europa. Em Hamburgo ele conheceu Aracy Moebius de Carvalho, uma diplomata brasileira que veio a ser sua segunda esposa, ambos tinham sido casados e eram desquitados. Viveram juntos até a morte do escritor. O mundo enfrentava a segunda guerra mundial e por várias vezes Guimarães Rosa escapou da morte, chegou a ter sua casa destruída durante um bombardeio enquanto ele estava trabalhando. Ele era um homem místico que acreditava na força das energias negativas e positivas, que para ele, pessoas e coisas possuíam. Muito observador, estudioso e crítico teve sempre muito interesse pelas crendices e culturas populares.
Durante o período que ele e a esposa trabalharam como diplomatas, durante a guerra ajudaram a proteger muitos judeus, assinando vistos para eles. Sua ajuda foi tão importante, que em 1985 o governo de Israel fez uma homenagem ao escritor e a sua esposa, nomeando um bosque próximo à Jerusalém com o nome deles.
Em 1951 Guimarães Rosa retornou ao Brasil e fez uma excursão pelo sertão de Mato Grosso anotando tudo sobre a fauna e a flora brasileira, sobre as crenças, superstições e costumes dos sertanejos.
Ele recolheu um farto material que foi utilizado na construção de sua obra prima “Grande Sertão Veredas” lançado em 1956 .Neste romance Guimarães Rosa transcende, ultrapassa com a sua escrita inovadora todos os “limites” que poderiam haver na criatividade de um escritor, seu texto é surpreendente e sua forma de falar sobre o sertão e sobre a gente simples e rude que habita esse universo é totalmente nova, deixando claro seu extraordinário talento e sua incrível capacidade de retratar esse mundo até então pouco conhecido pela maioria dos leitores. A linguagem do livro surpreende, chega a intimidar o leitor no primeiro momento pela “novidade” dos novos termos e pela maneira tão inovadora de como é desenvolvida a trama, mas depois o leitor vai adentrando o universo de Guimarães Rosa e quando percebe já está fascinado e envolvido por esse “sertão”, pelos personagens tão ricos e interessantes, por seus conflitos e suas angústias psicológicas magistralmente criadas pelo escritor. Guando foi lançado, o livro “Grande Sertão Veredas” causou um grande impacto dentro dos meios literários, foi também um grande sucesso comercial, recebeu
prêmios importantes e foi traduzido em várias línguas. Foi ao mesmo tempo aclamado e combatido pela crítica e pelo público da época, por sua característica extremamente inovadora, nem todos conseguiram alcançar e entender sua brilhante narrativa.
Em 1961 Guimarães Rosa recebeu o prêmio Machado de Assis pelo conjunto de sua obra e seu talento passou a ser reconhecido também fora do Brasil.
Em agosto de 1963 foi eleito, por unanimidade, membro da Academia Brasileira de Letras, a posse só aconteceu 4 anos depois em 16 de setembro de 1967. Três dias após a posse o escritor Guimarães Rosa faleceu subitamente enquanto estava sozinho em seu apartamento em Copacabana, não houve tempo nem para que ele fosse socorrido. No mesmo ano ele tinha sido indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, mas com a sua morte sua indicação foi cancelada.
João Guimarães Rosa foi literalmente um mestre das letras, um escritor genial que soube usar todo seu conhecimento linguístico na construção de uma linguagem totalmente inovadora em seus textos, criando novas palavras, utilizando-as simultaneamente com palavras antigas e já esquecidas e expressões regionais, sua maneira de contar uma história é única, seus romances além da linguagem inovadora denotam seu total domínio da técnica de escrever e seu enorme talento e incrível capacidade criativa . Esse escritor tão extraordinário rompeu as fronteiras brasileiras com sua genialidade e é reconhecido em muitas partes do mundo. O fato de dominar tantas línguas estrangeiras, de ter absorvido tanta cultura ao longo da vida e de manter em seus romances sempre a discussão sobre o ser humano e o universo que o cerca, num visão inovadora e poética, que analisa o homem em relação ao seu espaço, um tema universal, tudo isso fez de Guimarães Rosa um escritor do mundo, seu talento não ficou restrito ao solo brasileiro, ultrapassou as fronteiras e chegou a muitos outros países. Ao mesmo tempo Guimarães Rosa é um patrimônio da literatura brasileira que deve, merece e precisa ser conhecido e lido pelos brasileiros porque ele escreveu sobre nosso povo como nenhum outro escritor fez antes, conseguindo captar os sentimentos e nuances mais escondidos da alma do sertanejo, do homem rude, comum que traz dentro de si, apesar das falsas aparências, um verdadeiro caleidoscópio de “cores”, de múltiplas e interessantes facetas, cobertas pela aparência, cinza, comum e corriqueira de simples cidadão. 

   Fontes de Pesquisa:

   www.releituras.com/guimaros

    www.ebiografia.com/guimaraes_rosa

    http://pensador.uol.com.br/autor/guimaraes_rosa/biografia

    www.guiadoestudante.abril.com.br

    www.infoescola.com

    revistacult.uol.com.br - Welington Andrade(Doutor em literatura pela USP e professor da Faculdade Casper Líbero)   

    foto( Pensador)

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MACHADO DE ASSIS-

O MAIOR ESCRITOR BRASILEIRO DE TODOS OS TEMPOS
by Ivana Lopes


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis, ou Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 no morro do Livramento no Rio de Janeiro. O menino de origem humilde, descendente de negros era filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira portuguesa da Ilha de Açores. Ainda muito criança perdeu a mãe, seu pai se casou novamente e ele foi criado pela madrasta. A segunda mulher de seu pai vendia doces e Machado mesmo sendo só um menino trabalhava junto com ela para ajudar nas despesas da família. Eles vendiam os doces para os alunos de uma escola pública, como Machado de Assis ainda não frequentava nenhuma escola, há relatos que contam que nos intervalos das suas vendas ele aproveitava para assistir as aulas. Machado chegou a frequentar a escola pública, aliás a única escola por onde ele passou, mas cursou apenas os anos iniciais. Machado de Assis foi autodidata, possuía uma viva inteligência que fazia com que fosse capaz de aprender com facilidade. Em um de seus primeiros empregos trabalhou para uma comerciante que falava francês e apenas com a convivência aprendeu a falar fluentemente a língua estrangeira.

Esse grande nome da literatura brasileira foi escritor de romances, contos, crônicas, peças de teatro e escreveu também críticas literárias e poesias. Com apenas 16 anos publicou o poema “Ela” na revista Marmota Fluminense que pertencia à Livraria Paula Brito cujo dono era um incentivador de novos talentos, depois da publicação de seu poema Machado de Assis passou a colaborar com a revista regularmente. Foi nessa livraria que ele conheceu e se tornou amigo de José de Alencar, Joaquim Manoel de Macedo e Gonçalves Dias. Aos 17 anos começou a trabalhar como tipógrafo na Imprensa Nacional e a escrever nas horas vagas. Nessa época conheceu Manuel Antonio de Almeida autor de “Memórias de um sargento de milícias” e este se tornou seu protetor.

Em 1864 lançou seu primeiro livro de poesias chamado “Crisálidas”. Em 1869 O escritor se casou com Carolina Augusta Xavier de Novais. Sua esposa era uma mulher muito culta, além de ter sido sua grande incentivadora foi através dela que ele conheceu os clássicos portugueses e os escritores ingleses. Nunca tiveram filhos, viveram juntos por 35 anos até o falecimento dela. Machado sofreu muito com a perda da esposa e escreveu em homenagem a ela o soneto “Carolina”.

Em 1872 publicou seu primeiro romance: “Ressurreição” e em 1874 “A mão e a luva”. Em 1881 Machado de Assis publicou “Memórias Póstumas de Brás Cubas” considerado muito original e inovador para a época, com esse livro teve início no Brasil, um estilo literário chamado de “realismo”. Apesar disso sua obra é muito variada e não pode ser enquadrada em um único gênero literário.

Em 1899 foi publicado uma de suas maiores obras “Dom Casmurro”, nesse romance Machado de Assis, discorre de maneira brilhante sobre o “ciúme” durante toda a trama, numa narrativa envolvente. O livro tem um narrador: Bentinho (um homem velho, o Dom Casmurro) que conta a história de seu relacionamento com Capitu, durante todos os capítulos do livro o narrador tenta provar a traição de Capitu e graças à incrível habilidade do genial escritor Machado de Assis, a dúvida de que houve ou não a traição permanece até o final do livro, ao terminar a leitura ainda resta a pergunta, houve ou não a traição? O livro permite várias interpretações, a dúvida lançada por Machado não se esclarece e instiga o leitor. Mais de um século depois de seu lançamento, Dom Casmurro continua sendo uma obra prima que seduz quem o lê, prende em seu enredo, por sua sagacidade e sutileza de detalhes e por fim permanece a incerteza, deixada para o leitor, que após a leitura continuará questionando os fatos da história que leu.

O escritor Machado de Assis teve e tem até hoje um importante papel dentro da literatura brasileira. Além de sua incontestável genialidade foi também um dos idealizadores e responsáveis, juntamente com outros intelectuais da época, pela criação da Academia Brasileira de Letras oficialmente instalada em 28 de janeiro de 1897. Machado foi eleito presidente da instituição e permaneceu nesse cargo até falecer em 29 de setembro de 1908 no Rio de Janeiro.

Durante sua cerimônia fúnebre Machado de Assis recebeu honras de chefe de estado e teve um discurso em sua homenagem escrito e pronunciado por Rui Barbosa, também membro da Academia. A importância de Machado de Assis para a literatura é tão grande que naquela época, após seu falecimento, a Academia Brasileira de Letras passou a ser chamada de “Casa de Machado de Assis”.

Ele foi um grande mestre da literatura brasileira e mundial com um estilo inconfundível, sutil, sarcástico, um profundo observador da alma humana e de suas características psicológicas. Entretanto o escritor não viveu de sua literatura. Foi um funcionário público bem-sucedido, que apesar de sua origem humilde se tornou um refinado aristocrata. Um fato curioso marcou a vida e a obra desse grande talento brasileiro e mundial, Machado de Assis era descendente de negros e viveu durante o período da escravidão no Brasil, apesar de todo seu talento e genialidade e de todo o reconhecimento que desfrutou por parte dos intelectuais da época, Machado foi vítima de preconceito, em muitos de seus livros publicados, onde aparecem fotos do escritor, seu retrato passou por um “branqueamento “para que ele parecesse branco. É necessário lembrar que na época de Machado de Assis, a consciência da sociedade sobre os direitos dos negros sequer engatinhava, com exceção dos que eram abolicionistas e lutavam pelo fim da escravidão. E por conseguinte a sociedade não conseguia admitir que um descendente de negros pudesse ser um escritor tão brilhante e por isso sua imagem foi transformada na do escritor genial e “branco”. Esse “equívoco” tem sido corrigido e as novas edições de seus livros trazem as fotos de um homem afrodescendente e bem vestido. Machado de Assis é um escritor de primeira grandeza dentro da literatura mundial, tema de questões nos vestibulares, suas obras são tema de estudos, de palestras, de pesquisas por especialistas e intelectuais, mas acima de tudo sua obra merece ser lida e conhecida por todos os brasileiros porque além de extremamente bem escrita não só do ponto de vista gramatical é uma leitura agradável, instigadora, que tem muito a ensinar a todos nós.

Fontes de Pesquisa:

www.releituras.com/machadodeassis – projeto releituras Arnaldo Nogueira Jr.
www.ebiografia.com/machado de assis
DANTAS, Gabriela Cabral da Silva. “Machado de Assis “; Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/.../biografia-machado...>. Acesso em 08 de dezembro de 2016. 

CASTRO ALVES 

O ÚLTIMO GRANDE POETA DO ROMANTISMO

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Em 14 de março de 1847 nascia Castro Alves ou Antônio Frederico de Castro Alves. O último grande poeta do romantismo brasileiro. Sua vida e sua personalidade são tão fascinantes quanto a sua obra. Ele nasceu na Bahia, numa fazenda chamada Cabaceiras próxima à Vila de Curralinhos, hoje cidade que tem o mesmo nome do poeta.
Ainda criança mudou-se com a família para Salvador e foi matriculado na escola, onde entre seus colegas de turma estava Rui Barbosa. Aos 12 anos perdeu a mãe e três anos depois o pai. Ao entrar na adolescência começou a escrever poemas demonstrando já sua vocação e talento.
Quando o poeta completou 16 anos mudou-se para Recife para se inscrever no curso Jurídico da Academia de Direito. Castro Alves era muito jovem e achou que aquela cidade era tranquila demais, então ao invés de se dedicar aos estudos para conseguir entrar no curso que pretendia, ele deu início a um estilo de vida que marcaria toda a sua breve história, a boemia. Além das “noitadas” com os amigos ele também se dedicou aos romances com lindas mulheres, o poeta era um belo rapaz que atraia as mulheres por onde passava. A consequência desse comportamento foi a reprovação no exame mas em 1864 ele conseguiu entrar para a Academia e cursar Direito. Foi nos bancos acadêmicos que Castro Alves iniciou sua vida literária e onde sua consciência política e libertária foi despertada.
O poeta Castro Alves foi um grande ativista das causas sociais de sua época, um ícone do movimento abolicionista, ele entendeu a importância do seu papel como artífice das letras, no combate às injustiças sociais, onde a escravidão foi sem dúvida uma das maiores injustiças da história brasileira e mundial. Usou sua poesia para combater ativamente a escravidão e aos 22 anos escreveu seu poema mais célebre “O navio negreiro”. Se envolveu tão ativamente com essa causa que passou a ser chamado de “O Poeta dos Escravos”. Fez parte também do movimento republicano. Foi um jovem poeta politicamente engajado nas lutas do seu tempo, apesar da vida boêmia que levava nunca foi uma pessoa alienada, participou e contribuiu com as mudanças sociais que ocorreram no Brasil naquele período. Além das questões sociais, como um autêntico poeta do romantismo, com versos cheios de lirismo, sua poesia fala também do amor, da sedução e da beleza feminina.
Em 1867, quando ainda cursava direito em Recife, Castro Alves conheceu uma atriz portuguesa chamada Eugênia Câmara, dez anos mais velha do que ele e se apaixonou por ela. Abandonou o curso e partiu com ela numa temporada teatral que passou pela Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Escreveu para Eugênia um drama chamado “O Gonzaga ou a Revolução de Minas” que ela encenou na Bahia. No Rio de Janeiro Castro Alves conheceu o grande escritor Machado de Assis e através dele começou a participar dos meios literários. Em São Paulo se matriculou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Nesse período escreveu muitos poemas: “Pesadelo”, “Meu segredo”, “Noite de amor”, “A canção do africano” e “Mocidade e morte” entre outros. Após um ano de romance o poeta rompeu com Eugênia. No final do mesmo ano do rompimento, Castro Alves, durante suas férias, se feriu enquanto participava de uma caçada, ele levou um tiro acidental de espingarda.
Devido a esse acidente, cujo ferimento acabou se agravando, o poeta teve seu pé amputado. Mesmo após esse trágico episódio ele ainda escreveu o livro “Espumas Flutuantes”, o único livro dele publicado em vida e considerado sua obra prima. Um ano mais tarde, em 06 de julho de 1871 Castro Alves faleceu devido à tuberculose, doença muito grave e comum na época e para qual não havia ainda cura nem mesmo um tratamento eficaz. O estilo de vida boêmio que o poeta sempre levou e o acidente que ele sofreu debilitaram sua saúde e precipitaram sua morte que aconteceu quando ele tinha apenas 24 anos de idade.
O grande poeta Castro Alves usava em seus poemas uma linguagem imponente e muito expressiva, costumava ele próprio recitar seus versos nos lugares que frequentava e também dentro das universidades que frequentou como estudante. Seu poder de oratória era magnífico e com isso seus versos libertários e abolicionistas o tornaram muito conhecido e ajudaram na luta contra a escravidão no Brasil.
O último grande poeta romântico brasileiro teve uma vida muito breve e apesar disso muito rica, sua contribuição para a literatura e a poesia nacional é grandiosa, seu nome está marcado na história do Brasil para sempre, ele é o patrono da cadeira número 7 da Academia Brasileira de Letras e sua obra, sua vida e suas lutas merecem ser conhecidas por todos os brasileiros principalmente pelas novas gerações, por se tratar da história de um jovem poeta extremamente talentoso e que sonhou com a liberdade e a igualdade de todos os homens, com o fim do preconceito e das diferenças de direitos motivadas pela diferença de raças. Castro Alves foi alguém que acreditou e lutou com seu trabalho, a poesia, por um mundo livre e mais justo. Ele teve o sonho que tem todo jovem em qualquer época: mudar o mundo, torná-lo melhor. 

Fontes de Pesquisa:

 

www.ebiografia.com

www.educacao.uol.com.br

www.infoescola.com/biografias/castroalves

Foto: kdfrases.com

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